Festival resgata magia dos picadeiros

Estado de São Paulo

sex, 27/03/2009 - 10h14 | Do Portal do Governo

Até domingo, Limeira é o lugar para quem ama circo (ou seja, todo mundo)

Eles só não fugiram com o circo porque a casa deles sempre foi debaixo da lona. Thiago Tangará, de 25 anos, e Meire Mundial, de 24, fazem parte da 5ª geração do circo brasileiro, que não só rodou grande parte do País como ultrapassou as fronteiras sul-americanas em cima de um caminhão, em quase 100 anos de história. O casal se conheceu em um festival em Brasília, há cerca de três anos – Thiago, integrante de uma das famílias mais tradicionais de trapézio do Brasil, trabalhava na trupe de Beto Carrero; Meire se apresentava no Big Circo Mundial, fundado há 11 anos em Goiânia. “Aí rolou aquela paquera, começamos a namorar e estamos casados há três meses”, conta Meire, que nasceu dentro de uma barraca de circo.

Thiago e Meire são personagens de uma história viva, que tem um importante capítulo sendo escrito agora na cidade de Limeira, a 150 quilômetros de São Paulo, onde até domingo ocorre a 2ª edição do Festival Paulista de Circo.

Num terreno de 36 mil m², quatro imensas lonas foram batizadas com os nomes dos mais notáveis palhaços brasileiros: Arrelia, Pimentinha, Carequinha e Piolin, cujo aniversário de nascimento, comemorado hoje, instituiu o Dia Nacional do Circo.

Na quarta-feira, dia da abertura do festival, um divertido espetáculo – que contou com dez números, como os clássicos trapézio, tecido, malabarismo e mágica – lotou a lona Piolin, com capacidade para 800 pessoas, e fez outras 700 passearem pela chamada Cidade do Circo, montada no bairro de Nova Graminha.

Bettina Cardoso de Moraes, de 37 anos, levou as filhas, Paolla, de 2, e Rafaella, de 5, para assistir à abertura do festival organizado pela Secretaria de Estado da Cultura, que teve investimento de R$ 800 mil e é gratuito. “Eu sempre adorei ir ao circo, desde pequena”, diz Bettina.

TALENTOS

Mestres das artes circenses marcam presença em Limeira. Caso de Bruno Edson e seus pratos equilibristas, e o palhaço Xupetin, que não perde uma gag. Além deles, há apresentações de jovens e talentosos artistas circenses formados por escolas tradicionais e universidades de Artes Cênicas, como o grupo Fulanas, composto por cinco mulheres formadas em acrobacia e trapézio pela Escola Picolino, de Salvador. Luana Serrat, de 27 anos, é uma delas. “É maravilhosa essa oportunidade de poder mostrar o seu trabalho e participar desse intercâmbio entre os artistas”, afirma Luana.

O paulistano Claudio Carneiro, que trabalhou durante quatro anos no espetáculo Varekai, do Cirque du Soleil, também foi convidado para o primeiro dia de evento no interior paulista. Ele apresentou o engraçado número Ne Me Quitte Pas, cuja criação foi feita a pedido da trupe canadense.

A 2ª edição do Festival Paulista de Circo não deixa de fora as discussões, voltadas à classe mas também abertas ao público, que abordam desde a história do circo até os novos rumos que estão sendo tomados pela arte milenar – como a proibição de animais no picadeiro.

OLHO COMPRIDO

Os sonhos de quem é circense parecem se estender, como um passe de mágica a quem convive, mesmo que por pouco tempo, com esse mundo de particularidades. Caso de Leticia Paula Bais de Souza, de 13 anos, que vende frutas com calda de chocolate no palito por R$ 3 para ajudar a mãe.

A simpatia e o olhar comprido em direção ao picadeiro dão, de cara, uma pista do futuro da menina, que acaba de se matricular na escola de circo Aldeia, em Limeira. “Quando crescer vou ser trapezista.” Alguém duvida?