Fernando Faro monta novo Móbile

Folha de S.Paulo - Quarta-feira, 28 de maio de 2008

qua, 28/05/2008 - 17h49 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Estamos em meados da década de 60. No estúdio do “Móbile”, o programa “sem começo, meio ou fim” da TV Tupi, o apresentador Fernando Faro pede ao ator Lima Duarte que declame um texto “como um daqueles cantadores”. Lima tenta uma, duas, dez vezes.

“Não ficou bom, né, Baixo [apelido dado a Faro pelo dramaturgo Cassiano Gabus Mendes]?” Ouve o que esperava: “Não”. Sugere, resignado: “Vou tirar a dentadura, então.” Quem conta a anedota é Faro, 80, que agora exibe as “peças soltas, sem sentido nem história” de seu “Móbile” -na prática, uma colagem de literatura, dança, música, teatro e artes plásticas- na Cultura. A reestréia, hoje, costura as reminiscências shakespearianas do ator Juca de Oliveira ao canto saudoso de Vó Maria, viúva do compositor Donga, em “Pelo Telefone” (parceria dele com Mauro de Almeida).

Parece ser a nostalgia a linha a coser esses retalhos. “De fato, sempre há esse tom, essa cor nas coisas que eu faço. Porque, sei lá, lembrar é criar. Acho que foi um grego que disse isso”, diz o apresentador, que exemplifica seu “patchwork”: “No primeiro programa [da nova leva], pus o monólogo da Molly Bloom [do romance “Ulisses”, de James Joyce] na voz do [ator] Antônio Abujamra porque queria destacar o texto, criar um estranhamento.”

A idéia de refazer “Móbile” -nome tirado das “esculturas móveis” do norte-americano Alexander Calder (1898-1976) – partiu de Paulo Markun, diretor-presidente da Fundação Anchieta (Rádio e TV Cultura).

Na nova encarnação, vez por outra, closes “importados” do “Ensaio” (que Faro comanda desde 1969) tomam a tela: “Uso planos fechados em todos os trabalhos que faço na televisão. Sempre brinco [com quem pergunta sobre a “fixação”] que outras pessoas tiveram essa mesma mania de close: Pablo Picasso, Salvador Dalí…”, diverte-se Faro.

As lembranças do sertão já têm espaço reservado no programa de junho, diz o apresentador. Um livro recente de Décio Pignatari (“Céu de Lona”, de 2004), e as pinturas de Waldemar Cordeiro (1925-1973), também. E isso é só o começo. Ou o fim, ou o meio.

MÓBILE Quando: estréia hoje, às 22h40; sempre na última quarta-feira do mês

Onde: na TV Cultura