Febem: Unidade local tem melhor resultado no Estado

A Tribuna - Santos - Sexta-feira, 18 de junho de 2004

sex, 18/06/2004 - 9h36 | Do Portal do Governo

Nilson Regalado, da Sucursal de Guarujá

Dentre as 77 unidades da Febem existentes no Estado, a de Guarujá é que a apresenta o menor índice de reincidência. Os dados constam de um relatório remetido pela direção da unidade à Secretaria de Estado da Educação no início do mês. Enquanto nas demais unidades o índice de menores que voltam a cometer delitos gira em torno de 19%, nos últimos dois anos a Febem de Guarujá registrou um índice de reincidência de apenas 2,85%. A unidade comemora outro recorde: há 26 meses não é registrada nenhuma fuga.

O segredo é o atendimento personalizado para cada menor e a explicação para os resultados positivos é simples, os 72 jovens entre 14 e 18 anos internados têm atividades em dois períodos. Nos últimos dois anos, 140 menores passaram pela Febem de Guarujá e apenas quatro retornaram.

‘‘Nossa proposta é que eles saiam daqui fortalecidos, porque lá fora existem armadilhas. O nosso trabalho resulta no despertar da consciência de que eles são cidadãos’’, salienta o diretor da unidade, o pedagogo Genovaldo Alves de Aquino.

De manhã, os internos frequentam aulas de reforço escolar com professores da rede estadual e recebem noções de justiça, saúde, religiosidade e convivência em família com agentes de educação da própria unidade. À tarde, frequentam cursos profissionalizantes, participam de atividades físicas e oficinas de educação ambiental, artesanato e poesia.

Os mais inquietos são levados para a horta, onde o contato com a terra acaba amenizando o comportamento inicialmente agressivo. A disciplina dentre os menores é mantida a partir do estabelecimento de normas de convivência e limites. A direção também estipulou regras de atuação para os funcionários.

‘‘Hoje, a gente conhece os meninos pelo nome e isso é muito importante para eles, mexe com a auto-estima’’, salienta o psicólogo Sérgio Murilo Santos Coelho. Na avaliação do psicólogo, que trabalha há dez anos com internos, além do atendimento personalizado e das atividades educacionais, outro fator decisivo na redução dos índices de violência é o número adequado de internos em Guarujá.

‘‘Se superlotarem essa unidade vai ser impossível administrá-la, vai ser mais uma a fracassar e nós, funcionários, passaremos a ser burocratas, perdendo esse atendimento personalizado’’, explica Coelho. Especialista na avaliação do nível de inteligência de jovens, com experiência em universidades do Rio de Janeiro, Coelho se surpreendeu com o nível de inteligência de alguns internos.

‘‘Muitos deles chegam aqui sem saber ler. Hoje, tem menino que já leu 30 livros em seis meses de internação’’, salienta o diretor da unidade. O estudo aliado à formação profissional transformou a vida de 12 internos que receberam na última sexta-feira os diplomas de conclusão dos cursos de introdução à informática e panificação.

Essa iniciativa de oferecer uma qualificação profissional já permitiu o acesso ao emprego a jovens oriundos da unidade. Os exemplos mais recentes foram a contratação de um ex-interno por uma rede de restaurantes e de outro, que entrou nas Forças Armadas.
Comprometimento

Além do risco representado por uma eventual superlotação da unidade, a assistente social Lúcia Regina Gomes Armada enxerga outro perigo que pode pôr a perder todo o trabalho realizado com os menores pela equipe multidisciplinar da Febem de Guarujá.

‘‘Eles têm que sair daqui com a garantia de uma vaga na escola ou em um curso profissionalizante. Os municípios precisam desenvolver políticas de atenção integral a esses menores, porque eles sofrem com um alto grau de comprometimento social’’, afirma a assistente social.

Nesse aspecto, Lúcia considera que Praia Grande, Cubatão, Peruíbe e Itanhaém estão à frente das demais cidades da Região Metropolitana. Essa impressão é consolidada pelos números: dos quatro reincidentes registrados na Febem de Guarujá nos últimos dois anos, dois moravam na Cidade e outros dois em Santos.