Fantasia de Holst conduz Osesp ao melhor momento

O Estado de São Paulo - Quarta-feira, dia 17 de maio de 2006

qua, 17/05/2006 - 10h21 | Do Portal do Governo

Os Planetas integrou programa regido por Ronald Zollman na Sala São Paulo



Crítica

Lauro Machado Coelho

Especial para O Estado



Os coloridos Fogos de Artifício, que o Stravinski de 26 anos escreveu em 1908, foram um bom início para o programa regido por Ronald Zollman, quinta-feira, na Sala São Paulo. Peça curta, em que já é possível perceber a promessa do Pássaro de Fogo e de Petrushka, ela está marcada por diversas influências externas – entre elas a de seu mestre Rímski-Kórsakov -, mas já revela extrema segurança no domínio da escrita orquestral, o que ofereceu à Osesp excelentes possibilidades de execução.

Mais longo do que o necessário e extremamente dispersivo, o Concerto para Violino em lá menor op. 48, de Alfredo Casella, não teria obtido o efeito que teve se não contasse com a excelência de um solista como Emanuele Baldini. Há momentos interessantes na peça: a longa e difícil cadência do primeiro movimento, à qual se segue a cantilena do Adágio, com suas reminiscências da fase áurea barroca da composição para o violino. Mas, com freqüência, a composição parece ficar à deriva, sem saber muito bem para onde ir; e as passagens virtuosísticas do Rondó são de um gosto demasiadamente convencional. Baldini, porém, colocou as suas excepcionais qualidades de instrumentista a serviço de fazer a leitura mais limpa e persuasiva possível da peça.

O que o concerto teve de mais interessante foi a leitura de Os Planetas, a fantasia astronômico-astrológica concebida por Gustav Holst entre 1914-1918 (antes, portanto, da descoberta de Plutão em 1930). Impressionaram bem menos os selvagens 5/4 de Marte, o Portador da Guerra, em que Zollman deu tratamento convencionalmente pomposo aos metais, do que o lirismo profundo de Vênus, a Portadora da Paz, de que as cordas da Osesp tiraram efeitos belíssimos de legato. Após o scherzo saltitante de Mercúrio, o Mensageiro Alado, com suas sonoridades fluidas de flauta e celesta, veio o ponto culminante da peça: Júpiter, o Portador da Alegria, com uma melodia central de tom elgariano, inglesíssima, que a orquestra declamou com verdadeiro entusiasmo de hino à grandeza da era vitoriana.

Depois da marcha solene de Saturno, o Portador da Velhice, e de Netuno, o Mágico, com sua desengonçada melodia nos fagotes e um segundo scherzo de tom irônico e áspero, foi muito feliz a idéia para encerrar Netuno, o Místico, em que o uso do coro feminino sem palavras reutiliza o procedimento das Sirenes, dos Trois Nocturnes, de Debussy. Colocar as cantoras no corredor, por trás da galeria do coro, deu a seu canto o tom remoto de algo que vem realmente dos confins do universo. Foi um belo efeito para encerrar a suíte num contemplativo e gradual silêncio. ESPECIAL PARA O ESTADO