Faltam voluntários para a vacina da aids

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 9 de março de 2006

qui, 09/03/2006 - 18h10 | Do Portal do Governo

Estado reuniu apenas três das 20 pessoas necessárias para testes. Medo – infundado – de contrair doença faz com que jovens se recusem a participar da pesquisa

CINTHIA RODRIGUES

A falta de informação pode levar ao fim a participação paulista na pesquisa para encontrar uma vacina contra a aids. O Estado conseguiu apenas três dos 20 voluntários com idade entre 18 e 24 anos e HIV negativo necessários para realizar os testes. A maioria dos jovens têm medo de contrair a doença, embora o produto sequer contenha o vírus inteiro.

A vacina em teste é uma variação da que erradicou a varíola nos anos 70. Para fazer o corpo produzir anticorpos, foram introduzidos três genes do HIV, isolados e sintetizados. O responsável pelas pesquisas no Centro de Referência e Treinamento DST/Aids em São Paulo, Artur Kalichman, explica que estes genes jamais poderiam formar um vírus inteiro. “Não há nenhuma possibilidade de contaminação, simplesmente porque não há vírus, nem vivo, nem morto, nem de forma nenhuma”, afirma.

O objetivo dos testes é verificar possíveis efeitos colaterais. Para isso, cada voluntário receberia três doses e seria acompanhado por 13 meses. Nos Estados Unidos, o mesmo medicamento já foi injetado em 110 americanos e os únicos problemas apresentados foram dor no braço e febre leve, sintomas comuns após qualquer aplicação por injeção intramuscular.

No Brasil, além de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deve participar do programa. Por enquanto, os cariocas tiveram mais sucesso, com 13 dos 20 voluntários necessários confirmados. “Vamos tentar uma prorrogação do prazo, não queremos perder a chance de participar”, afirma Kalichman.

Para ele, a vantagem de se manter na pesquisa é garantir ao país acesso à tecnologia e informações sobre a doença e seu combate. “Além de fazermos parte do esforço internacional, o Brasil pode usar isso depois em negociações de patentes”, disse.

Sem vacina, tratamento pode ficar inviável

Considerado pioneiro nos estudos da aids no País, o médico do Instituto Emílio Ribas Caio Rosenthal concorda: “Quanto mais participarmos, melhor vamos acompanhar os progressos contra a doença”. Ele lembra que o Brasil ganhou pontos na comunidade científica internacional por ter sido o primeiro a dar tratamento gratuito para a doença, mas o custo elevado deve tornar o programa inviável a médio prazo. “Gastamos demais e, a cada ano, 20 mil novas pessoas precisam de medicamentos. Não vamos conseguir sustentar isto.”

O médico entende o medo das pessoas em lidar com um mal tão perigoso, mas defende que a pesquisa tem aval de comitês internacionais e nacionais de ética. “Eu seria totalmente contra se resolvessem aplicar os testes apenas em países do Terceiro Mundo, mas não é isso que ocorre.”