Fachada da Luz, enfim, restaurada

Jornal da Tarde - São Paulo - Sexta-feira, 5 de novembro de 2004

sex, 05/11/2004 - 8h51 | Do Portal do Governo

Estação construída entre 1895 e 1901 teve toda a parte externa recuperada, ganhando de volta ares do século passado. Obras foram quase artesanais e incluíram até inversão da face de tijolos originais

BRUNO TAVARES

A mais antiga estação de trens de São Paulo ganha de volta os contornos do passado. Ontem, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) retirou os tapumes que cobriam a fachada da Estação da Luz, na Rua Mauá, região central. A conclusão da obra marca o fim da fase de restauração externa do local, construído por engenheiros ingleses entre 1895 e 1901. No próximo ano, o saguão principal, que dá para os jardins do Parque da Luz, também deverá ser recuperado.

Os trabalhos na face sul da estação começaram no início do ano. Para resgatar os ares do século passado, os arquitetos tiveram de restaurar e até substituir alguns tijolos da parede de 1.015 m². “Em alguns casos, utilizamos a técnica de retirar e inverter a face do tijolo que fica aparente”, explica Fernando Andrade de Gusmão, gerente de projetos da CPTM.

As esquadrias metálicas das duas marquises receberam nova camada de tinta e proteção contra ferrugem. As antigas telhas de zinco também foram substituídas. A recuperação da alvenaria – repleta de elementos decorativos – incluiu ainda a aplicação de um produto contra fungos. “Como se trata de um serviço praticamente artesanal, optamos por uma equipe de restauração com poucos profissionais. Desta forma, foi possível dar mais uniformidade à obra”, afirma o gerente de projetos.

A explicação para tamanho zelo é simples: além de representar um dos mais importantes projetos arquitetônicos da Cidade, a Estação da Luz é tombada pelos departamentos do patrimônio histórico municipal, estadual e federal. Por causa disso, cada intervenção dos operários dependia da aprovação dos três órgãos.

Durante a primeira fase da obra de restauro, a fundação que patrocinou a obra foi acusada de não usar procedimentos corretos para recuperar a fachada. As irregularidades não foram comprovadas.

Para evitar que os anos voltem a degradar a estação, a CPTM colocou em prática um programa de manutenção preventiva. Segundo o gerente de projetos da companhia, a principal preocupação é oferecer segurança aos cerca de 80 mil passageiros que circulam pelo local todos os dias. Com a integração entre trens e metrô, já disponível aos domingos e feriados, esse número deve crescer. Quando a Linha 4 (Amarela) do Metrô estiver em funcionamento, a expectativa é de que 300 mil pessoas passem pelo local diariamente.

Estação da Luz atravessou oceano

A Estação da Luz, réplica da estação de trens de Sydney, na Austrália, chegou a São Paulo a bordo de um navio, totalmente desmontada. As telhas de cerâmica eram de Marselha, na França, e as estruturas de aço, de Glasgow, na Escócia.

Da forma como foi construída – com um rebaixamento de aproximadamente 6 metros da via férrea –, ela não divide a cidade, e ainda permite o acesso a todos os quarteirões vizinhos, como a Rua Brigadeiro Tobias e os bairros da Luz e Bom Retiro.