Experiências ajudam o hábito de leitura

Valor Econômico - São Paulo - Quinta-feira, 24 de março de 2005

qui, 24/03/2005 - 10h49 | Do Portal do Governo

Parceria com setor privado vai zerar déficit de bibliotecas no Estado de São Paulo até o fim deste mês

Cristina R. Durán
Para o Valor, de São Paulo

Segundo a Câmara Brasileira do Livro, a média de leitura por ano no país é de 1,8 livro por pessoa. Somem-se a isso os resultados do Indicador Nacional de Analfabetismo (Inaf) de 2003 e verifica-se o quanto é fundamental aproximar o brasileiro dos livros: entre os cidadãos de 15 anos a 64 anos, apenas 25% são capazes de ler textos longos. Outros 37% conseguem localizar uma informação em textos curtos; 30% sabem ler e escrever, mas somente identificam informações simples. Os restantes 8% nem sequer são alfabetizados.

Considerando que entre os 92% dos brasileiros que sabem ler e escrever apenas 25% compreendem textos longos, o restante, mesmo que tenha um emprego, vive em um seriíssimo nível de exclusão social. ‘Para ser absorvida pelo mercado de trabalho, que exige uma compreensão de leitura e escritura, não basta a pessoa ter aprendido a juntar letras e formar palavras e frases’, alerta Fábio Montenegro, diretor-executivo do Instituto Paulo Montenegro, braço social do Ibope voltado para a educação. Em parceria com a ONG Ação Educativa, o instituto vem realizando o Inaf anualmente já há cinco anos.

Se o cidadão alfabetizado não compreende o que lê – o chamado analfabeto funcional – e não tem acesso à leitura, o contato cada vez mais próximo e freqüente com o livro pode levá-lo a querer se aprofundar nesse universo, abrindo outros horizontes e oportunidades de trabalho. ‘A leitura não pode ser vista como instrumento somente para chegar à literatura, mas também a jornais, revistas e informações na internet’, afirma a educadora Vera Masagão Ribeiro, assessora e pesquisadora da Ação Educativa.

Autora de obras como ‘Letramento no Brasil’ (Global Editora, 287 páginas, R$ 43), prêmio Jabuti de 2004 para a educação, que reúne uma série de textos sobre os assuntos organizados por ela. Vera observa que ‘não basta pedir para ler, é preciso criar acervos interessantes, mas também o acesso a eles’, ressalta.

Uma das iniciativas públicas com resultados positivos é o programa ‘São Paulo: Um Estado de Leituras’. E chama a atenção pelo efeito multiplicador. Criado e lançado pela Secretaria de Estado da Cultura em 2003, é orientado pelo Conselho Paulista de Leitura – composto por amantes dos livros, como o empresário José Mindlin -, e coordenado pelo professor e ex-proprietário da livraria Belas Artes, José Luis Goldfarp.

Em parceria com as 84 prefeituras que não tinham nem uma biblioteca, e com empresas como Pão de Açúcar, Itaú e a Bolsa de Valores de São Paulo, o programa já implantou mais de 70 bibliotecas; abriu 49 salas de leitura pela periferia da capital e na grande São Paulo (20 em hospitais públicos, 22 em conjuntos habitacionais do Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), cinco nos Centros de Integração da Cidadania, uma na Penitenciária Feminina Dra. Marina Cardoso de Oliveira; outra no Centro Desportivo Baby Barione). A meta de zerar o número de municípios sem bibliotecas deverá ser alcançada neste mês.

Normalmente acompanhado por Cláudia Costin, secretária estadual da Cultura e idealizadora do projeto, Goldfarp procura ir a cada inauguração de uma biblioteca e fica cada vez mais entusiasmado com a idéia. ‘A cidade se mobiliza: vem o padre, o banqueiro, a banda, a fanfarra. O cidadão envolve-se, sente-se inserido, melhora a auto-estima. Não há como a pessoa não querer se aproximar do livro.’

Segundo Cláudia Costin, a estrutura do programa é simples: ‘O município dá o espaço e o funcionário para cuidar da biblioteca, que é capacitado por nós. A empresa entra com o apoio, ‘adotando´ uma determinada cidade.’ Pelo menos 300 mil livros já foram doados pela população estimulada por campanhas e ainda foi criado um site feito por jovens leitores.