Estado dará bolsa para jovem voltar à escola

O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 27 de maio de 2004

qui, 27/05/2004 - 9h41 | Do Portal do Governo

Iniciativa vai ser dirigida a carentes, de 15 a 24 anos, que abandonaram estudos

RENATA CAFARDO

O governo estadual vai lançar um programa de complementação de renda para jovens carentes entre 15 e 24 anos. Uma bolsa de R$ 60,00 mensais será dada a quem estiver fora da escola e se dispuser a voltar a estudar. O anúncio vai ser feito na segunda quinzena de junho pelo governador Geraldo Alckmin. Programas na mesma linha que já existem no País – como o Bolsa-Família e o Renda Mínima – são direcionados só a crianças e adolescentes até 14 anos ou a pais de família.

O cadastramento dos primeiros 2 mil beneficiados começou a ser feito em abril na periferia da capital, em bairros como Capão Redondo, Jardim Irene e Brasilândia. ‘Iniciamos pela região metropolitana de São Paulo, a mais problemática do Estado, onde há altos índices de pobreza jovem e desemprego jovem’, disse ao Estado a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Maria Helena Guimarães de Castro, que está em Xangai, na China, participando do Fórum Global de Redução da Pobreza.

A intenção do governo é atender 10 mil jovens até o fim do ano, o que representa 2% dos cerca de 470 mil dessa faixa etária que estão fora da escola na região metropolitana. No Estado, são 1 milhão. Maria Helena diz que o projeto deve ser ampliado a cada ano, depois das análises de resultados.

Lucas Tadeu Conde Delello, de 18 anos, parou de estudar no 1.º ano do ensino médio para virar ajudante de caminhoneiro. Ganhava R$ 260,00 e trabalhava durante toda a madrugada, até que caiu do veículo e quebrou o braço. ‘Não tenho mais força para carregar o caminhão e tenho ficado muito na rua.’

Lucas vive só com a mãe no Capão Redondo, também afastada do serviço, e foi selecionado para receber a bolsa. ‘Eu era o pior da escola, mas agora vou me esforçar’, garante.

Como os outros beneficiados, Lucas fará parte também de projetos desenvolvidos por ONGs parceiras do governo. ‘Metade do período o jovem estará na escola e metade, em atividades socioeducativas nas entidades’, explica Maria Helena.

‘Não é possível falar em alteração da realidade sem articular todos os setores da sociedade’, diz a superintendente da Fundação Itaú Social, Ana Beatriz Patrício. A entidade vai desenvolver com estudantes projetos – de reciclagem ou reurbanização, por exemplo – para intervenção na sua comunidade.

Estágio – Há parcerias garantidas com empresas como Votorantim, J.P. Morgan e Coca-Cola, que oferecerá estágios remunerados ao participantes. O Ação Jovem, como o projeto será chamado, terá investimento inicial de R$ 5 milhões, que serão usados também para bancar a atividade de ONGs.

A educação no Brasil é obrigatória apenas para crianças entre 7 e 14 anos.

Isso explica também o direcionamento do programa à população acima desta faixa etária. Para ser beneficiado é preciso ainda morar em regiões de alta concentração de pobreza, segundo índices oficiais. Os jovens receberão vale-transporte e poderão cursar a Educação de Jovens e Adultos (EJA), antigo supletivo, ou o ensino regular público.

O governo do Estado já financia o programa Renda Cidadã, que oferece R$ 60,00 a 60 mil famílias de baixa renda. No fórum em Xangai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou esta semana o Bolsa-Família. O programa federal agrupou quatro outros (Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Auxílio Gás e Cartão Alimentação). Quase 4 milhões de famílias recebem de R$ 15,00 a R$ 95,00.