Escolas mudam ‘panorama’ de bairros

ValeParaibano - São José dos Campos - Domingo, 25 de abril de 2004

seg, 26/04/2004 - 10h03 | Do Portal do Governo

Comunidades carentes trocam marginalidade e violência por atividades educativas e recreativas com ajuda de voluntários

Max Ramon, de São José dos Campos

Fazer a diferença. Era issso o que queria o funcionário público Tony Emerson de Oliveira, 30 anos, morador do bairro Campo dos Alemães, zona sul de São José dos Campos.

Desde garoto, ele conviveu com os problemas sociais do bairro, um dos mais carentes do município, mas não sabia o que fazer para mudar a rotina da comunidade.

A grande chance acabou surgindo há pouco mais de um ano, quando foi convidado pela direção da escola estadual engenheiro Edgard Mello de Mattos para trabalhar como voluntário do programa ‘Escola da Família’, criado em agosto de 2003 pelo Governo do Estado.

Hoje, ele coordena uma escolinha de futsal aos finais de semana na quadra poliesportiva da escola e não esconde a satisfação em poder ajudar a reescrever a história do bairro.

‘Nosso bairro é pobre, não tem quase nada. Apesar disso, não é preciso muito para ajudar a mudar essa história e poder participar disso é motivo de orgulho para mim’, afirmou.

Oliveira é apenas um dos integrantes de um verdadeiro ‘batalhão’ de voluntários que todos os finais de semana abrem mão de algumas horas de lazer para desenvolver atividades socioeducativas em escolas da rede pública de ensino de São José.

Com poucos recursos, mas com muita força de vontade, eles desenvolvem projetos movidos a lições de vida, solidariedade e esperança.

E tem de tudo: futebol, capoeira, cursos (que vão de idiomas à auto-elétrica), oficinas de artesanato e até sala de cinema. Há também atividades de inclusão social, como cursos de informática para surdos e mudos e aulas de dança de rua para portadores de deficiências físicas.

‘Quando não tínhamos essas atividades, enfrentávamos muitos problemas. Violência, vandalismo, tráfico de drogas. Abrindo a escola para a população, melhoramos o nosso relacionamento com a comunidade e conseguimos acabar com tudo isso. A comunidade passou a valorizar mais a escola’, contou Célia Duarte, diretora da escola.

HISTÓRIAS DE VIDA – Aos poucos, iniciativas como a do voluntário Tony Emerson Oliveira ajudam a mudar o destino de jovens como Luciana Cândido Pereira, 17 anos, que mora na rua da escola Edgard Mello de Mattos.

Ela não sonha em ser jogadora de futebol, mas aprendeu a acreditar no seu potencial depois que passou a freqüentar a escolinha de futsal coordenada por Oliveira.

‘Antes da escolinha, só ficava na rua, vivia desanimada. Aqui, descobri que tenho muitas amigas e que, com força de vontade, a gente pode ser mais feliz’, afirmou.

Outro bom exemplo dessa integração entre a rede pública de ensino e a comunidade é encontrado na escola estadual José Antônio Coutinho Condino, no bairro Santa Hermínia, zona leste da cidade.

Lá, os voluntários apostam na criatividade para amenizar os problemas do bairro, que não conta sequer com rede de esgoto. Em pouco tempo, eles conseguiram criar cursos de inglês, aulas de axé e dança de rua, oficinas de teatro, brinquedoteca e, a última novidade, uma sala comunitária de cinema batizada de ‘Cine Condino’.

ARTESANATO – Mas as parcerias entre a rede pública de ensino e a comunidade não estão restritas às escolas estaduais.

Na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) professor Álvaro Gonçalves, do bairro Campo dos Alemães, zona sul da cidade, foi criado um grupo de artesanato para mães de alunos portadores de necessidades especiais.

Nas oficinas, realizadas duas vezes por semana, as alunas confeccionam imãs de geladeira, panos de prato, bonecas de pano e peças em crochê, entre outros produtos. Todo o material é comercializado em feiras promovidas na própria escola e o dinheiro é revertido em matéria-prima.

Parcerias são solução para problemas sociais

As parcerias firmadas entre as escolas e a comunidade são vistas por representantes da rede pública de ensino como a solução para problemas sociais como a violência e o tráfico de drogas.

Para a diretora de ensino de São José, Edeusa Medina Martins, o envolvimento de pais e alunos em atividades extra-curriculares na escola é fundamental no processo pedagógico.

‘Os índices de violência têm diminuído muito nas escolas que desenvolvem iniciativas como essas. Além disso, a integração com os pais aumentou muito, fazendo com que eles participassem mais do aprendizado dos filhos. Tudo isso faz com que o aluno tenha um desempenho muito melhor’, disse.

Segundo Edeusa, a participação da comunidade em atividades voluntárias desenvolvidas nas escolas contribuem até para a redução dos índices de vandalismo.

‘Sempre digo que quando a gente se envolve com alguma coisa, essa coisa se torna nossa. Hoje, escolas que desenvolvem esse tipo de trabalho viraram uma espécie de clube nos finais de semana’, afirmou a diretora de Ensino.

Opinião semelhante tem a secretária de Educação de São José, Maria América de Almeida Teixeira, que vê na integração entre a comunidade e a escola a um importante mecanismo do processo pedagógico.

‘A escola não está sozinha. Para alcançarmos nossos objetivos, é preciso que haja uma grande integração entre a escola, a família e a comunidade. Além disso, iniciativas como essas ajudam a amenizar os problemas sociais dos bairros atendidos e contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população’, disse.

Maria América afirmou ainda que a secretaria pretende ampliar o número de parcerias entre as escolas e a população até o final deste ano.