Escola reduz agressividade com jogos

Jornal da Tarde - Quinta-feira, dia 1º de junho de 2006

qui, 01/06/2006 - 11h04 | Do Portal do Governo

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

Chutar os professores, tentar fugir pelo buraco de obras da escola, ter o apelido de Pit Bull e ser temido por alguns colegas da escola. Para a surpresa do leitor, este não é mais um caso de adolescente revoltado, mas de um aluno que, aos 8 anos, cursa a 2ª série na Escola Estadual Henrique Dumont Villares.

É neste contexto que a equipe pedagógica da escola, localizada no bairro Jaguaré, que hoje conta com aproximadamente 900 alunos de 1ª a 4 série, em parceria com a Fundação Bunge, encontrou uma maneira inusitada para trabalhar a agressividade na escola: incentivar a brincadeira.

“No ano passado vimos que era preciso fazer algo para canalizar a energia dos alunos que brigavam muito na hora do recreio. Foi quando decidimos inserir jogos em nosso espaço que fossem criados com o apoio da comunidade”, afirma Elaine Leite, diretora da escola.

Os alunos ficaram responsáveis em pesquisar com seus familiares as brincadeiras que pudessem ter como cenário o chão pintado da escola. Já os professores tiveram o desafio de inseri-las em seu contexto pedagógico. “Levamos cerca de seis meses para definir as brincadeiras e preparar o espaço físico da escola. Até as peças dos jogos, como o dado do jogo de percurso ou os cones do boliche, foram feitos com material reciclado por alunos.”

A professora da 1ª série da Escola Estadual Henrique Dumont Villares, Nádia Moya Brocado, afirma que ainda é cedo para avaliar os resultados do projeto, que teve início há 2 meses, “mas a resposta tem sido positiva, pois os alunos pararam de brigar no intervalo”, avalia.

Já o professor da 4ª série, Alex P. de Almeida, diz que os jogos estão inseridos no conteúdo pedagógico. “A história é trabalhada nos jogos de percurso, os alunos só avançam as casas quando acertam as datas históricas. Os alunos se comportam melhor para brincar em aula.”

Casos complicados

A aproximação da família do projeto será o próximo passo. “Temos o Pit Bull, que entrou aqui no ano passado para cursar a 1ª série e, ao ser contrariado vira bicho. Tivemos até de chamar a Ronda Escolar”, diz a diretora Elaine Leite. Após inúmeras tentativas de trabalho, a escola partiu para a família. “Como sua mãe é catadora de papel, com poucos recursos financeiros, conseguimos atendimento psicológico gratuito para o menino”, diz. Hoje, o aluno tem melhorado e até participa das brincadeiras no recreio.

Como agir

A psicóloga Vera B. Zimmermann, coordenadora do ambulatório do Centro de Referência da Infância e Adolescente da Unifesp, diz que a falta de disponibilidade dos pais pode gerar comportamento agressivo nos filhos. “É preciso firmeza, pois a agressividade é usada também para chamar a atenção.” Segundo a especialista, o comportamento agressivo está relacionado à fragilidade familiar. “Os pais têm de exercer a chamada função paterna, devem criar regras e usá-las como referência.” Já Yara Sayão, psicóloga do Serviço de Psicologia Escolar da USP, ressalta que os professores devem estar preparados para lidar com alunos agressivos. “É preciso criar novas formas de interação com este aluno, pois não é a família que vai resolver o seu comportamento agressivo em sala.”