Escola incentiva a leitura em região carente

Jornal da Tarde - Sexta-feira, dia 5 de janeiro de 2007

sex, 05/01/2007 - 10h51 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

Em agosto de 2006, a Escola Estadual Maria Antonieta Martins de Almeida, de Embu das Artes, lançou um desafio para seus alunos: quem lesse mais livros no 2º semestre ganharia um prêmio de R$ 100. Para a surpresa de todos, a aluna da 6ª série Nicole de Melo dos Santos superou as expectativas da equipe pedagógica da escola: ela leu nada menos que 80 publicações quase 5 meses.

E não foram livros “fininhos”. Entre as obras lidas pela menina estão O Cortiço, de Aluísio de Azevedo; Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare e o Diário de Anne Frank, organizado por Otto Frank.

A professora Regina Carla Vidal lembra que Nicole já tinha o hábito da leitura antes mesmo do desafio ser lançado pela escola. “Ela tem prazer em ler, então foi fácil para ela superar os outros alunos.”

Nicole, que tem 12 anos, confirma a constatação de sua professora. “Desde a 2ª série eu passei a ler muito, até em casa eu pegava os livros de espiritismo da minha tia.”

Para Adelaide de Melo, avó de Nicole, o difícil é ter dinheiro para saciar o hábito de leitura de sua neta. “Sempre que posso faço uma compra em uma loja de livros usados. Não sou de ler muito, por isso não sei de onde veio esse hábito, pois desde que ela nasceu sua mãe a deixou para eu criar. Mas logo que Nicole aprendeu a ler, não parou mais”, conta a avó, emocionada.

No entanto, mesmo com tal facilidade, a professora Regina ressalta que Nicole, sempre que tinha um tempo livre, estava com um livro na mão. “Ela foi determinada. Após terminar um exercício em aula ela pegava um livro para ler. Alguns alunos até desanimaram, pois não conseguiam acompanhar o intenso ritmo de leitura de Nicole.”

Segundo Eli Urias Musel, diretor da EE Maria Antonieta Martins de Almeida, para incentivar o hábito de leitura nos alunos, os professores da escola tiveram de se unir. “Os alunos tinham de trazer resumos das obras lidas e alguns professores também pediram para eles reproduzirem em aula as histórias que liam em casa.”

A leitura mensal de cada aluno também contribuiu para a sua nota bimestral. “Vimos que era preciso criar um projeto de incentivo à leitura, pois muitos alunos não tinham contato com a literatura em casa.”

O diretor explica que o apoio financeiro da Associação de Pais e Mestres (APM) foi fundamental para a realização do projeto. “Contratamos alunos monitores para cuidar da biblioteca e controlar a retirada de livros dos alunos.”

A APM também deu suporte para a premiação. Além dos R$ 100 entregues a Nicole, a escola deu R$ 50 para a 2ª colocada, Daiane Santos, que leu 15 livros, e R$ 25 para Jarleide Rocha, 3ª colocada, que leu 12 livros.

Em 2007, Eli pretende dar continuidade ao projeto. “O resultado foi positivo, pois além da Nicole, muitos alunos que não tinham o hábito da leitura conseguiram ler 4 ou 5 livros. Já foi uma vitória.”

Incentivo

Segundo Wagner Sérgio Pedroso, coordenador pedagógico da Escola Estadual Maria Antonieta Martins de Almeida, de Embu das Artes, a idéia de um prêmio em dinheiro foi fundamental para incentivar o hábito de leitura dos alunos. “Como temos muitas famílias da região que dependem dos programas sociais do governo como o Bolsa Família, vimos que uma remuneração seria um fator de motivação que faria a diferença.”

A reforma da biblioteca também contribuiu para o sucesso do projeto. “Antes, nossa a sala de leitura era um almoxarifado. Ao contratar os alunos monitores conseguimos organizar os livros. Porém, ainda estamos em fase de estruturação. Com os livros enviados pelo governo e as doações feitas por professores, conseguimos oferecer boas obras para os alunos.”

Para a próxima edição desse projeto de leitura, a coordenação pedagógica também pretende envolver os pais e a comunidade. “Como estamos localizados em uma região carente, pretendemos inclusive levar o hábito da leitura para os familiares dos alunos”, diz Wagner.