MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br
A escola que ninguém quer. Essa foi a afirmação que o educador Hewerton Santos Chaves ouviu, há mais de 13 anos, ao aceitar dirigir a Escola Estadual Dilson Funaro, localizada na Zona Norte, bem no meio da Favela do Flamingo.
A s ruas não eram asfaltadas, a escola não tinha telefone e em alguns ambientes não havia teto, não havia nada. Hoje o cenário é outro: o índice de evasão escolar é nulo, o espaço físico da escola, que tem mais de 1,2 mil alunos que cursam da 1ª série ao Ensino Médio, é conservado e a comunidade comemora a segurança, pois desde que Hewerton assumiu nunca houve um caso de violência nem mesmo briga dentro da escola.
O educador conta que ao chegar ficou assustado. “O espaço era grande e aberto e, como era difícil chegar àquela região, os alunos ficavam sem aulas, a rotatividade de professores era grande. Não controlávamos a saída e a entrada dos alunos”, diz o diretor, que já presenciou tiroteios do lado de fora.
Arregaçar as mangas foi a primeira atitude tomada por Hewerton, que, com poucos professores que eram comprometidos à época, levantou os problemas mais graves e buscou ajuda com o poder público. “Por erro da Prefeitura, até asfaltaram a rua de escola errada.Tivemos de ter paciência”, lembra.
A atual vice-diretora, Marilda M. Alcântara, que trabalha na escola desde a sua inauguração, conta que o começo não foi fácil. “Quando chovia era um desespero, entrava água por todos os lado. A sorte é que a comunidade respeitava a escola, mas, no entanto, antes da gestão do Hewerton, os alunos e a comunidade não paravam aqui.”
Após realizados os ajustes do espaço físico, Hewerton partiu para o seu desafio pedagógico. “Vi que para instaurar a ordem era preciso ter sempre um funcionário próximo aos alunos”, ressalta o diretor.
Hewerton explica que sempre deixou claro para a comunidade que a disciplina seria a prioridade e a família sempre teria informações sobre o comportamento dos alunos. “Acredito que este tenha sido o grande segredo da nossa segurança, pois a comunidade gostou de receber atenção.”
A escola, recentemente, recebeu 5 bolsas de estudos de cursos profissionalizantes para os melhores alunos, mas, em vez destes, enviou os casos “problemáticos”, que hoje apresentam melhor desempenho. Além da rigidez, a linha pedagógica usa muito aulas lúdicas. “Não adiantava o aluno ficar em um lugar seguro, sem ter prazer. Promovemos a interação do conteúdo da aula com a realidade do aluno”, explica João Jazinski, coordenador pedagógico.
Preconceitos
A aluna do supletivo Maria Oliveira Paes conta que a escola enfrenta preconceitos por estar localizada dentro da favela. “Eu matriculei o meu filho em outra escola, pois como eu não moro na favela todos falavam que ali era violento.”
No entanto, quando Maria decidiu voltar a estudar e se matriculou na EE Ministro Dilson Funaro, se surpreendeu. “A escola é bem melhor do que a do meu filho, que não fica na favela. Todos respeitam o diretor, a comunidade é unida e realiza muitas atividades.”