Escola de samba vira biblioteca

O Estado de S. Paulo - Suplemento Estadão Sul - Sexta-feira, 22 de julho de 2005

sex, 22/07/2005 - 9h38 | Do Portal do Governo

Objetivo de programa estadual consiste em formar banco de pesquisa e incentivar o hábito da leitura

Rodrigo Cerqueira César e Renata Gama

A escola de samba Vai-Vai, no Bexiga, ganhou uma nova biblioteca no mês passado, com cerca de mil volumes, entre obras infantis e didáticos. Inaugurada em 14 de junho, a sala faz parte do Programa São Paulo: Um Estado de Leitores, da Secretaria de Estado da Cultura. ‘Vamos passar, agora, por cursos de bibliotecário e de contadores de história’, diz a diretora do Departamento Assistencial e Cultural (Dasc) da Vai-Vai, Maria de Lourdes Castelhano Pereira.

Desde janeiro de 2004, a agremiação já contava com uma biblioteca com cerca de 2 mil livros, doados pelo professor Aziz Ab’Saber, géografo do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de São Paulo (USP). ‘Depois, começamos a receber ainda mais doações e atualmente há cerca de 6 mil volumes’, comenta Maria de Lourdes. ‘Uma sala fica no segundo andar e a outra no primeiro andar, porque o local é pequeno. A secretaria inclusive doou estantes para acondicionar os livros.’

A diretora conta que a escola aceitou a oferta da secretaria ‘porque livros nunca são dmais’. ‘O pessoal da comunidade não tem computador para pesquisar’, ressalta. ‘E a secretaria nos escolheu também porque já tínhamos parceria com eles por meio do Projeto Barracão, que oferece cursos de percussão e cavaquinho, entre outras oficinas.’

Foi por meio desse projeto que a iniciativa pública pôde conhecer de perto a carência das escolas de samba por livros. Como grande parte dos títulos que vão para as salas de leitura é de doações, durante as campanhas de arrecadação é costume da secretaria pedir ajuda para as entidades atendidas por outros programas. ‘Quando pedimos para as escolas de samba chamarem a comunidade para colaborar, eles me disseram: ‘Mas nós é que precisamos de livros’, relata José Luiz Goldfarb, coordenador do projeto São Paulo: Um Estado de Leitores. E assim surgiu a idéia de levar as salas de leitura para os barracões. Dessa vez, o projeto deve atender, além das crianças, os públicos jovem e adulto.

A assessora de Maria de Lourdes, Niltes Aparecida Lopes, afirma que os empréstimos dos livros já vêm sendo feitos, mesmo sem os curso técnicos. ‘O professor já nos tinha ensinado como catalogar e fazer os empréstimos. Mas claro que com o curso vamos aprender muito mais’, afirma. Segundo Niltes, quatro pessoas se encarregarão de organizar os dois espaços. ‘Não tem como não emprestar nenhum livro, se uma criança está precisando. Com os projetos, cerca de 50 delas passam pela quadra diariamente.’

O programa São Paulo: Um Estado de Leitores foi criado para incentivar a leitura e facilitar o acesso aos livros. Zerar o número de municípios do Estado sem bibliotecas públicas era uma das metas. Até 2003, 84 dos 645 municípios paulistas não tinham um espaço desse tipo. A ação resulta de esforço conjunto da Secretaria de Estado da Cultura, das prefeituras e da iniciativa privada.

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Desde o lançamento da iniciativa, em 2004, várias empresas encamparam a idéia e doaram acervos. Nesse esquema, os padrinhos fornecem um computador e o acervo básico, de 600 a mil títulos, definidos por uma listagem criada pela secretaria, de acordo com o número de habitantes dos municípios.

Os livros são repassados às salas de leitura pela secretaria, depois de doações de clientes de redes de supermercado como Extra e Pão de Açúcar. Segundo Goldfarb, a proposta da secretaria é aumentar sensivelmente o número de leitores, principalmente por prazer e não obrigação. ‘O Brasil está muito atrás nesse número, em relação a países como Argentina, México e Colômbia, em estágio semelhante de desenvolvimento. Entendemos que é possível mudar toda esta realidade, com ações simples como esta’, afirma.

Com relação especificamente às agremiações ligadas ao samba, Goldfarb considera que, com a sala de leitura, o repertório dos sambistas será ampliado. ‘Temos um acervo de 200 mil livros para ceder e o País tem obras de sobra. A questão é levá-las para onde estão as pessoas.’

Dados da secretaria indicam que os brasileiros lêem 1,7 livro por ano, enquanto colombianos e mexicanos chegam a 4 obras e argentinos, a 6 por ano. Nos Estados Unidos e na Europa, o índice é de 14 a 15 livros nesse mesmo período.

A capacitação dos funcionários municipais e as atividades de estímulo à leitura também ficam sob responsabilidade do Estado. Além de bibliotecas, o programa abriu outras 50 salas de leitura pela periferia da cidade e Grande São Paulo – 22 em conjuntos habitacionais da CDHU e 20 em hospitais públicos.

Serviço:
Vai-Vai – Rua São Vicente, 276. Telefone: 3105-8725