Equipe inicia raio X genético do boi brasileiro

O Estado de S. Paulo - 8/5/2003

qui, 08/05/2003 - 9h30 | Do Portal do Governo

Evanildo da Silveira


Fapesp e Central Bela Vista Genética unem-se na pesquisa Genoma Funcional do Boi

Identificar genes que possam ser utilizados para desenvolver produtos e tecnologias para melhorar a qualidade da carne bovina, a eficiência reprodutiva dos animais e sua resistência a parasitas e doenças.

Esses são alguns dos objetivos do projeto Genoma Funcional do Boi, lançado ontem, na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Trata-se de uma parceria entre essa instituição e a empresa Central Bela Vista Genética Bovina.

Focado na raça Nelore, que responde por 80% das 183 milhões de cabeças da pecuária brasileira, o projeto tem investimento previsto de US$ 1 milhão, dividido igualmente entre os dois parceiros. O prazo para sua conclusão é de 18 meses, quando deverão ter sido identificados e seqüenciados cerca 30 mil genes expressos, isto é, que codificam – dão a receita para a ‘fabricação’ – as proteínas responsáveis pelo metabolismo e pelas características genéticas do animal.

Segundo o coordenador do projeto, o engenheiro agrônomo Luiz Lehmann Coutinho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), as pesquisas serão feitas em duas etapas. ‘Na primeira, que durará de seis a sete meses, faremos o seqüenciamento para a formação de bibliotecas de clones dos genes de interesse’, explica. ‘Para isso, coletaremos tecidos bovinos da hipófise e do hipotálamo, dos sistemas reprodutivo, imunológico e digestivo, além de tecidos musculares e adiposos.’

O objetivo é a produção de 100 mil seqüências expressas (ESTs – Expressed Sequences Tags), contidas naqueles 30 mil genes. Essas ESTs são seqüências ou pedaço de um gene que permitem identificá-lo e, por conseqüência, a proteína que ele codifica. Em palavras simples, elas tornam possível descobrir a função do gene no metabolismo do boi, que pode ser, por exemplo, dar maior ou menor resistência a parasitas, precocidade sexual ou maciez ou dureza da carne.

Na segunda etapa, os pesquisadores vão procurar características mais detalhadas. A meta, nessa fase, é identificar genes envolvidos em funções específicas, relacionadas a características de interesse econômico. Serão procurados só aqueles responsáveis pelas características positivas, como maior produtividade. ‘Vamos buscar os genes que permitam a criação de tecnologias que podem gerar pedidos de patentes’, explica o proprietário da Central Bela Vista Genética Bovina, Jovelino Mineiro. ‘São aqueles que podem melhorar a performance da pecuária brasileira.’ Ou seja, o que se pretende é transformar conhecimento científico em negócios.

Xylella – O projeto Genoma Funcional do Boi é, na verdade, conseqüência direta dos programas de seqüenciamento de genomas da Fapesp, iniciados em 1997 com a bactéria Xylella fastidiosa, causadora da praga do amarelinho nos laranjais paulistas. O sucesso desse primeiro projeto rendeu prestígio no exterior à pesquisa genômica brasileira. A conclusão do mapeamento do DNA da Xylella, em 2000, foi até tema de capa da prestigiosa revista científica britânica Nature.

Nesse contexto, o projeto do boi faz parte do Programa Genomas Agronômicos e Ambientais (AEG), da Fapesp, composto por 20 laboratórios da Rede Onsa, o Instituto Virtual de Genômica, criado em 1997 para o desvendamento do código genético da Xylella. São pesquisadores desses laboratórios que vão trabalhar com o genoma do boi.

Para o governador Geraldo Alckmin, projetos como esse são muito importantes para o Estado e para o Brasil. ‘São Paulo é responsável por dois terços das exportações de carne brasileira’, disse. ‘Esse projeto é um avanço nas pesquisas para melhorar a qualidade da nossa carne. Também é importante porque a cadeia produtiva do boi gera empregos, irriga a economia. É um setor que só traz boas notícias, porque agora estamos quase ultrapassando os Estados Unidos e Austrália na exportação de carne.’