Entrevista

Rádio CBN - 27/02/2003

sex, 28/02/2003 - 14h57 | Do Portal do Governo

Em entrevista concedida ao jornalista Mílton Jung, da Rádio CBN, nesta quinta-feira, o ex-secretário nacional de Segurança Pública, pesquisador do Instituto Fernando Braudel, Cel. José Vicente, elogiou o sistema penitenciário paulista, em especial os presídios de Presidente Bernardes e de Taubaté, e destacou também a queda do índice de criminalidade em São Paulo.

“O grande problema de vulnerabilidade dos presídios não são suas barreiras físicas, efetivamente, mas sim as fraquezas humanas. No caso de Presidente Bernardes, e também Taubaté, de onde a disciplina foi copiada, apresenta-se um conjunto de ações, de processos, de supervisão dos agentes penitenciários de Taubaté que levou à configuração do regime disciplinar dos não-disciplinares, do comportamento dos agentes”.

Sobre a transferência de Fernandinho Beira-Mar para presídio de São Paulo:

“O fato é o seguinte: Nós sabemos que os criminosos de maneira geral têm verdadeiro pavor de ir para essas prisões, porque a sensação de isolamento, longe de rádio, televisão, revistas, visitas, banho de sol, companheiros, futebol, simplesmente acaba com essas pessoas. Aquilo passa a ser um exemplo da capacidade que o Estado tem efetivamente de cumprir a lei e punir os grandes bandidos, os grandes predadores da sociedade (…) O conjunto de Taubaté e mais Presidente Bernardes, que são as duas prisões de segurança máxima, têm contingente relativamente pequeno dos grandes perigosos bandidos. A preocupação que existe hoje na polícia, em todos os lugares dos grandes centros urbanos brasileiros, nem é com esses grandes criminosos. A grande quantidade de pessoas presas mostra ainda uma vulnerabilidade da sociedade com bandidos amadores. O que preocupa realmente a sociedade é o crime desorganizado e, para isso, a resposta não é simplesmente prender, e sim dificultar a ação desses bandidos (…) O trabalho principal da polícia não é prender; o trabalho da polícia é controlar o crime.

E ressaltou:

“O governador Geraldo Alckmin, quando assumiu o governo, acabou se empenhando nessa questão policial – um envolvimento pessoal que raramente as autoridades costumam ter porque isso acaba remetendo à responsabilidade direta do governante. Mas isso acabou dando resultado, porque houve um grande empenho da polícia. O secretário (Saulo de Abreu) é um homem que se identificou com a polícia em São Paulo, ao invés de criticar, como alguns técnicos fazem. Acabou prestigiando a polícia. O fato é que houve uma renovação de motivação no quadro policial, ainda que falte muita coisa a fazer”.

Sobre a queda do índice de criminalidade em São Paulo:

“Os principais crimes do Estado de São Paulo estão tendo reversão. Nós não temos a menor perspectiva de ter incidentes como os que aconteceram no Rio de Janeiro recentemente. A polícia de São Paulo se orgulha há muito tempo de que aqui não tem bandido conhecido. Há uma certa razão nisso, mas há uma contenção de criminalidade visível hoje no Estado de São Paulo, diferentemente do que acontece no Rio de Janeiro”.

Sobre as facções criminosas no Estado de São Paulo:

“Elas foram neutralizadas de uma forma bastante eficiente. (…) Esse é um trabalho permanente. Portanto, hoje não temos uma expressão desafiadora de facção criminosa no Estado de São Paulo. Isso é verdade. Mas a vigilância é permanente para que ela não se reorganize e que a polícia possa dar resposta em tempo. O Estado de São Paulo deve receber equipamentos de última geração para dar suporte à inteligência no Estado e acredito que isso vai ajudar bastante, não só a combater os que tenham cometido crime, mas para que a polícia possa, em breve, se antecipar aos criminosos e reduzir drasticamente suas atividades. Mas que hoje não temos grandes facções criminosas no Estado, felizmente, estamos constatando isso”.