Emoção na festa de 113 anos dos bombeiros

Jornal da Tarde - São Paulo - Sexta-feira, 20 de novembro de 2004

sex, 19/11/2004 - 9h19 | Do Portal do Governo

Ontem foi dia de festa para os oficiais do 2º Grupamento, que atende a Zona Oeste. Em meio à comemoração, eles relembraram os grandes incêndios e suas vítimas, que muitas vezes tiraram o sono desses salvadores de vidas. Entre as lembranças mais marcantes, as tragédias no Joelma, Grande Avenida e Andraus

GILBERTO AMENDOLA

O fogo já consumia três velas de aniversário e ameaçava a integridade de um bolo de chocolate e creme quando oficiais da reserva do Segundo Batalhão do Corpo de Bombeiros encheram os pulmões de ar. Tratava-se do primeiro incêndio controlado por um sopro e, principalmente, da comemoração dos 113 anos do grupamento.

Em 1880, um incêndio na Faculdade de Direito determinou a criação oficial do Corpo de Bombeiros. Onze anos depois, o crescimento populacional nas zonas urbanas de São Paulo já indicava a necessidade da ‘espalhar’ esse contingente pela Cidade. Assim, no dia 15 de novembro de 1891, foi inaugurada a Estação Oeste de Bombeiros – que hoje se chama 2º Grupamento de Bombeiros, responsável pelos bairros da Barra Funda, Campos Elísios e Lapa.

Ao longo de sua história, o grupamento esteve envolvido em grandes tragédias. Os incêndios nos edifícios Andraus, Joelma e Grande Avenida ainda tiram o sono de muitos oficiais. ‘Lembro de alcançar o Joelma realizando a travessia pelo prédio vizinho. Essa cena não sai da minha cabeça’, contou o comandante da reserva, José Carnecina Martins.

Já o tenente Pedro Ortiz Carcere, 55 anos, tem o incêndio do Andraus como marca em sua carreira. ‘Um corpo caiu ao meu lado. O cidadão tinha se atirado do prédio…’. O incêndio do Grande Avenida, em plena Avenida Paulista, ainda tira o fôlego de Cláudio Collado, 49 anos. ‘Um pai atirou um recém-nascido do 1º andar. Atirou nos meus braços…’

Uma catástrofe recente também faz parte dessa história. O primeiro bombeiro a chegar ao local da queda do Fokker 100 da TAM no Jabaquara (Zona Sul) é do 2º Grupamento. ‘O cenário era de total destruição e desolação. O meio-fio pegava fogo e eu ouvia sirenes ao longe’, lembra o tenente Paulo Ronbesso.

Nem sempre os grandes eventos são os mais doloridos. ‘Em qualquer caso, em que a vítima é uma criança, eu fico arrasado’, conta o soldado Celso Reinaldo Talpo. Seu coração fica mais apertado quando ouve do filho uma confissão. ‘Quero ser bombeiro igual ao meu pai. Gosto de salvar vidas e dos carros’, disse Caio Augusto Talpo, 14 anos.

O tenente reformado Paulo Gilberto Bressani, 53 anos, sabe que a vida de bombeiro guarda suas armadilhas. ‘Perdi um companheiro durante um deslizamento. Ele estava lá no meu lugar. Me substituindo.’ Bressani pede um segundo para segurar o choro e continua. ‘Isso é a minha vida. Esse grupamento é minha família também.’

Ontem, era dia de festa. Mas essas e outras lembranças insistiam em participar das conversas informais entre os homens e mulheres do 2º Grupamento de Bombeiros. ‘Fico muito orgulhoso disso tudo. Trata-se de um grupamento centenário, cheio de histórias e glórias’, contou o atual comandante, Luiz Carlos Ribeiro. O grupamento atende cerca de 22 mil ocorrências por ano, 2 mil por mês e 70 por dia.