Em estudo, veneno de aranha contra problemas de ereção

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 18 de junho de 2007

seg, 18/06/2007 - 11h11 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Homens picados por aranhas costumam relatar uma reação colateral inesperada – uma prolongada, porém dolorida, ereção. Para tentar transformar o efeito em opção no tratamento de disfunção erétil, dois grupos de pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo pesquisas, independentes uma da outra, relacionadas ao tema.

Eles isolaram uma toxina do veneno da aranha armadeira Phoneutria nigriventer e conseguiram provocar ereção de duas horas em ratos e camundongos. “Descobrir os efeitos dessa substância foi um grande passo”, diz o urologista Mário Paranhos, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

A toxina TX2-6, também chamada de eretina, aumenta a produção de óxido nítrico, uma das substâncias responsáveis pela ereção. Essa ação é diferente da apresentada por medicamentos para disfunção erétil. O remédio inibe a produção de fosfodiesterase, enzima responsável pela interrupção da ereção.

O FUNCIONAMENTO

O processo de ereção começa com o estímulo sensorial, responsável pela liberação de óxido nítrico nos corpos cavernosos (estruturas cilíndricas irrigadas por vasos sanguíneos que dão sustentação e regulam a entrada de sangue no pênis). Após essa etapa, aumenta a concentração do GMP cíclico. Ela é responsável pelo relaxamento dos músculos dos corpos cavernosos, permitindo a entrada de sangue, que mantém o pênis ereto.

Testada em animais, a toxina produziu efeitos animadores. Em 15 minutos, a eretina começa a fazer efeito. A equipe de Maria Elena de Lima, do Laboratório de Venenos e Toxinas Animais da Universidade Federal de Minas Gerais, obteve ereção de até duas horas em ratos.

A equipe do HC preferiu trabalhar com camundongos. “Não usamos ratos, pois convivem com aranhas na natureza e desenvolveram uma resistência natural ao veneno”, explica o médico Enrico Andrade, do HC.

Os pesquisadores alertam que ainda falta muito para transformar a toxina em droga para humanos. Antes que testes clínicos possam começar em homens, um problema crucial precisa ser resolvido. “Precisamos conseguir dissociar a ereção (decorrente do veneno) da dor”, diz Maria Elena.

Outra linha de pesquisa da equipe do HC também mostrou resultados promissores. Os médicos testaram em ratos com disfunção erétil a toxina botulínica, já usada em tratamentos estéticos, por exemplo. “A toxina relaxa a musculatura em até 20 horas após a aplicação por até três meses”, diz Paranhos. Esse efeito no pênis facilita o fluxo de sangue. “Os testes estão em fase inicial.” Ele explica que 50% dos homens acima de 40 anos têm algum tipo de dificuldade de ereção.