Em artigo no Estado de S.Paulo, Serra faz balanço dos 100 dias de governo

Governador afirma que a passagem dos 100 dias carrega um sinal positivo: "mostrou que funciona, tem direção e sabe aonde quer chegar"

qua, 11/04/2007 - 16h29 | Do Portal do Governo

Estado de S.Paulo

JOSÉ SERRA

De uns tempos para cá, a marca dos 100 dias se tornou um ritual de passagem dos governos brasileiros, a quem se oferecem balanços de uma gestão em fase inicial. Num país onde os mandatos duram quatro anos, esse período equivale a 1/14 de um mandato. Comparado com a vida de uma pessoa de 70 anos, o prazo de 100 dias equivale a avaliar uma existência – inclusive carreira profissional, patrimônio, descendentes – antes dos 5 anos de idade.

A idéia de que é possível produzir acontecimentos importantes em apenas 100 dias não se limita à vida pública. Muita pessoas acreditam que potências de dez facilitam soluções mais exatas. Dez ao quadrado, muito especialmente. Há livros dedicados à saúde (100 Dias para Melhorar a Saúde – Yoga Taoísta) e obras eróticas (Os Meus Contos Eróticos – 100 Dias de Shiva). Em DVD, é possível alugar 100 Dias na Floresta. Uma consulta ao Google relaciona 309.000 itens a “100 dias”. Curiosamente, os 100 dias entraram nos estudos políticos como crônica de uma derrota. Após a fuga da Ilha de Elba, Napoleão retornou à França e promoveu uma insurreição até ser derrotado em Waterloo, numa epopéia que durou 100 dias, que entraram para a História.

Faço todas essas ressalvas antes de dizer que, do meu ponto de vista, a passagem dos 100 dias, no governo do Estado de São Paulo, carrega um sinal positivo: o governo mostrou que funciona, tem direção e sabe aonde quer chegar.

Um dado chega ser surpreendente. Elaborado durante a campanha, meu programa de candidato é composto por 88 compromissos. Desses, cerca de 70 se encontram em fase de encaminhamento prático, ante 18 que não saíram do papel. Isto quer dizer que 80% de nosso programa já deixou o estado vaporoso da idéia pura para começar a se transformar em matéria sólida.

O primeiro item do primeiro capítulo – sobre Educação – fala em “colocar dois professores por sala de aula na primeira série de ensino fundamental”. Esta proposta, que representa uma medida essencial para o futuro de nossas crianças, se encontra em estágio semi-acabado. Já temos 5.830 candidatos inscritos para 3.260 vagas que serão criadas até o final do ano. As primeiras aulas sob o novo sistema terão início neste semestre, na capital.

Em 3 de abril, na assinatura de um convênio com o Hospital Pio XII, em Barretos, teve início o encaminhamento do oitavo item do capítulo de Saúde, que propõe “criar um programa de apoio às Santas Casas de Misericórdia e outros hospitais filantrópicos”. A inauguração de duas faculdades de tecnologia, de duas escolas técnicas e de duas unidades da Fundação Casa (ex-Febem) segue os capítulos “Educação” e “Desenvolvimento Social”. Os primeiros frutos do Programa de Recuperação dos Córregos da Região Metropolitana de São Paulo, lançado na Semana da Água, devem aparecer em dois anos. As linhas básicas estão em “Energia e Recursos Hídricos e Saneamento”.

Sempre estive convencido de que a política não é “a arte do possível”, como tantos repetem, muitas vezes inconscientes do peso conformista dessa definição, mas uma forma de “alargar os horizontes do possível” para ampliar o bem-estar da população. Essa noção inclui obras, serviços e também idéias. Não tolera o desperdício nem a ignorância vegetativa que marca a história administrativa do País. Exige um esforço permanente para enfrentar a verdadeira prioridade, que é o desenvolvimento com segurança para as famílias. Também cobra soluções eficientes, numa gestão criativa, mas rigorosa, que permita o enxugamento da administração e a liberação de recursos para o crescimento, como ocorreu na negociação sobre a folha de salários para a Nossa Caixa, que, além de fortalecer essa instituição a médio e longo prazos, vai ajudar a construir o Metrô, o Rodoanel, os Fóruns e as estradas vicinais.

Com 40 milhões de habitantes e um terço do produto interno bruto (PIB) brasileiro, São Paulo tem a renda per capita mais alta do País. Se o interior se assemelha a países desenvolvidos, o Estado no conjunto acumula traços de atraso. Lidera a produção industrial brasileira e também a produção de açúcar e de etanol, considerado o combustível do futuro. Simultaneamente, acumula um déficit social conhecido e um passivo de agressões ao meio ambiente. Possui 90% das melhores estradas do País e grandes carências de infra-estrutura, o que encarece a produção e faz do trânsito paulistano uma versão poluída do inferno, com seu preço na economia das empresas e no bem-estar das pessoas.

Metade da população do Estado reside na capital e em sua região metropolitana. A outra parte, no interior. São realidades diferentes, que cobram respostas equilibradas e responsáveis. A Grande São Paulo não pode ser entregue à própria sorte, como tem ocorrido tantas vezes, sob o risco de se transformar num abismo de contradições, violências e incertezas. O nosso interior não pode ser esvaziado, sob a ameaça de se tornar um universo sem perspectiva. Um de meus orgulhos é dirigir um governo capaz, em três meses, de recapear 61 km de marginais, indispensáveis para a Grande São Paulo e para o trânsito que vem do interior e de outros Estados, e, ao mesmo tempo, iniciar investimentos de 2.000 km em estradas vicinais, fator de revitalização do desenvolvimento regional.

Uma pesquisa do Instituto DataFolha mostrou uma boa avaliação do governo recém-eleito, com 65 dias úteis de governo. Mas é preciso e vai ser possível melhorar muito. Com o passar do tempo, a experimentação cede lugar à experiência, os erros transformam-se em lições e a racionalidade se impõe. Ainda temos 93% do mandato para cumprir. Literalmente, o que se viu em 100 dias é apenas o começo.

José Serra é governador do Estado de São Paulo