Eles pedem brinquedo e saúde

Jornal da Tarde - Quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

qua, 12/12/2007 - 16h07 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Letra redondinha e bem caprichada. Desenhos coloridos enfeitam a folha do caderno. Eles não pouparam esforços para falar com o bom velhinho. Pela primeira vez, muitos tiveram a oportunidade de usar esse canal direto com o Papai Noel, afinal só agora aprenderam a escrever. Aproveitam a chance para arriscar pedir o que o dinheiro curto não deixa sonhar. Mas, entre os carrinhos, bonecas e videogames, as cartinhas têm um ponto em comum: pedem curas de doenças, alta hospitalar, vida normal de novo.

São 200 crianças que trocaram os uniformes escolares por pijamas, as brincadeiras na rua por longos períodos de internação. Todas estão em tratamento no Hospital Infantil Estadual Darcy Vargas, na Zona Sul da Capital, por causa de doenças sérias, como câncer e anemia falciforme, entre outras.

“Como precisam ficar muito tempo afastadas da escola, desenvolvemos um programa de alfabetização dentro da unidade, chamado classe hospitalar. A maior parte delas aprende a escrever aqui”, explica a professora Maria Aparecida Pena, que trabalha no Darcy. “Nas oficinas de cartas, inserimos a leitura na vida dos pacientes e aproveitamos para resgatar a magia do Natal, que às vezes fica esquecida com os problemas de saúde”, diz a outra professora, Karen Carneiro.

Tem menino que pediu dentes novos. Outro que quer sair do hospital logo e voltar a jogar futebol com os irmãos. Uma garota de 15 anos, que já é mãe, pediu para ficar boa logo e poder passar o Natal com a filha. Por falar nisso, até as mamães não resistiram e escreveram cartinhas pedindo a cura de seus filhos.

“Ninguém gosta de estar no hospital nessa época. As carências ficam afloradas e o desejo por mais saúde é recorrente. O interessante é que as cartas cumprem dois papéis principais. Auxiliam no tratamento, já que os pedidos nos mostram o que precisamos sanar, e também devolvem o sonho para essas crianças, as fantasias”, afirma Sérgio Sarrubbo, médico pediatra e diretor do Darcy Vargas.

Como o hospital é público, as crianças são todas carentes, porém, não menos exigentes. O Papai Noel tem missões árduas a cumprir no Darcy Vargas. “Não custa nada tentar, né? Aprendi a escrever b-i-c-i-c-l-e-t-a e pedi uma para mim”, falou Matheus, 8 anos, que fez questão de ressaltar na sua carta: “Se não der, querido Noel, vou entender e não vou ficar triste”. Patrick, 12 anos, já está internado há 24 dias. “Eu queria ouvir o barulho dos sinos e também ganhar muita alegria junto com todas as crianças”, diz ele, que sonha com um videogame, mas não colocou esse pedido na lista.

Para atender a tantos pedidos de presentes, Noel pede auxílio aos voluntários. Quem quiser pode adotar uma das cartinhas (leia acima). “Eu ainda não aprendi a escrever, mas, se você falar com o Papai Noel, avisa que eu quero voltar a brincar em casa. Se ele quiser, pode me dar um jogo também”, dá o recado Rodrigo, 5 anos, que acabou de chegar ao hospital, sem previsão para sair.

COMO ADOTAR UMA CARTINHA DE NATAL NOVOS PEDIDOS

O movimento no Hospital Darcy Vargas é intenso. Por isso, quase diariamente uma nova carta é escrita e traz mais missões para Papai Noel

SECRETÁRIA

O hospital deixou de prontidão uma secretária do bom velhinho. Quem quiser adotar uma cartinha, deve ligar para a unidade e ouvir os pedidos dos pacientes. Quando escolher um deles, a recomendação é entregar pessoalmente. Mas, se não puder, é só mandar o presente para a unidade entregar

CONTATO

As cartas podem ser adotadas até o dia 20. O fone é 3723- 3839, das 10h às 14h. O hospital aceita parceria com empresas

VEJA TRECHOS DE ALGUMAS CORRESPONDÊNCIAS

“Estou internado há quatro meses. Sinto falta dos meus amigos, da professora e da escola. Papai Noel, gostaria de passar o Natal em casa, perto do meu pai e da minha mãe, avó e tios. Quero ver toda a minha família reunida com muita paz e alegria.

Peço que me dê muita saúde e, se possível, gostaria de ganhar um carrinho de controle remoto”

PEDRO, 10 ANOS

“Estou fazendo aniversário de 6 anos no hospital. Quero sair logo daqui. Queria pedir proteção para todos que cuidam de mim. E

se o Papai Noel puder, quero um microfone para cantar bastante”

MATEUS, 6 ANOS

“Peço muita saúde, porque este ano não foi muito bom. Descobri que tinha câncer. Mas estou bem melhor e até já acostumei com a careca. Bom, vamos ao que interessa. Queria um carro dos carros, que vi na TV. Se puder, uma boneca para minha irmã, que tem 1 ano. Ela pega todos os meus brinquedos”

JOSÉ RICARDO, 5 ANOS (ditou a carta)

“Só descobri a leucemia com meus 16 anos. Foi um choque, me afastei dos amigos. O melhor é que estou me curando. Com fé em Deus, vou recuperar o movimento das minhas pernas. Para o Papai Noel, é o mesmo o que eu peço para Deus. Só saúde, não tenho preferência de presente”

EDINALDO, 16 ANOS

“Eu desejo um feliz Natal, um próspero ano novo, que 2008 seja melhor. Ah, se o senhor puder me mandar um patins nº 36, eu ficaria superfeliz. Um beijo”

GLENDA, 12 ANOS

“Eu, mãe da Júlia, peço só para a minha filha de 3 anos sarar dessa doença, uma alergia grave. Ela sofre muito com isso. A Júlia é muito carinhosa. Venha nos visitar, Papai Noel, nesse Natal. E, se puder, traga uma boneca para ela”