Educar é realizar sonhos

Correio Popular - Campinas - Sexta-feira, 15 de outubro de 2004

sex, 15/10/2004 - 9h42 | Do Portal do Governo

OPINIÃO

É típico do ser humano o dom de fantasiar. Principalmente na primeira idade

Gabriel Chalita

É típico do ser humano o dom de fantasiar. Principalmente na primeira idade. Crianças fantasiam em todas as situações, em todos os lugares. Não por acaso a fantasia aparece como componente fundamental de todas as brincadeiras, nas parlendas e cantigas, nos contos de fadas e de aventura, nas pinturas e modelagens, na dança ou na teatral construção de personagens. E não por acaso o instrumento mais pedagógico é o sonho. O professor é, antes de tudo, um mestre na arte de gerenciar sonhos. Trabalha as expectativas contidas nas fantasias e, a partir delas, constrói realizações. Esta é a principal ocupação do educador, a essência da profissão de fé do magistério. É sua atuação, na vida de cada pessoa em formação, de cada indivíduo que se tornará o realizador de amanhã, que faz a diferença entre o imaginar e o concretizar.

Goethe teve a consciência dessa grandeza. Disse ele: “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor!”.

Educador é aquele que consegue fazer do ambiente escolar uma floresta encantada na qual meninos e meninas seguem migalhas de pão atrás de uma casinha de gengibre – para, quem sabe, no futuro, tornarem-se arquitetos e engenheiros de casas de verdade.

Educador é aquele que estimula as crianças a freqüentar a escola com prazer e alegria, porque consegue acolher expectativas e gerenciar sonhos.

Graças aos nossos educadores, a rede estadual de ensino do Estado de São Paulo tem mais uma razão para comemorar este dia 15 de outubro, Dia do Professor: o registro de um dos maiores feitos obtidos nas escolas estaduais nas últimas décadas, que foi a redução da evasão escolar para um índice de 1% (isso mesmo, um por cento) nas classes da primeira até a quarta séries. O levantamento foi promovido pelo Saeb, o Sistema de Avaliação do Ensino Básico do Ministério da Educação e dá conta de que São Paulo é o Estado da Federação que apresenta menor índice de evasão. Nas classes da quinta até a oitava séries, o índice paulista é de 3%, e no ensino médio é de 5,6%, enquanto que a média nacional gira em torno de 20%. São Paulo cresceu em todos os quesitos da avaliação do Saeb. E isto se deve, essencialmente, ao desempenho dos professores paulistas. Eles conseguiram que os alunos tenham prazer em ir para a escola, em viver e conviver num ambiente aberto e acolhedor.

Mais que isso, os educadores do nosso Estado desenvolveram mecanismos de valorização das famílias, instando-as a estarem presentes nas escolas, ajudando no processo educacional com o estabelecimento de vínculos da escola com a comunidade, dando atenção aos filhos e fazendo crescer o diálogo. Em um ano de existência, o Programa Escola da Família levou mais de 50 milhões de pessoas para as escolas, nos fins-de-semana, numa integração que é a base do conceito da educação para todos.

A despeito de avanços fundamentais, é preciso reconhecer que ainda há muito o que fazer para melhorar a educação no Estado de São Paulo. Mas tudo se fará, da melhor maneira, se for plenamente alcançada pelos professores e pelos funcionários a consciência do seu papel individual como educadores, ou seja, como alavancadores de sonhos.

Um dos papéis do educador é ser, ele próprio, aluno, é ser, ele próprio, um sonhador. Para isso, o educador tem de estudar sempre. A Secretaria da Educação tem feito a sua parte, disponibilizando ambiente, conteúdo e materiais pedagógicos para a capacitação de professores. O governador Geraldo Alckmin, ele também um educador sensível, tem feito a sua parte. Concedeu reajuste salarial que será pago neste mês de outubro, beneficiando especialmente os professores que ganhavam menos. O governador jamais permitiu atraso de pagamento em sua gestão. E também teve a clareza de autorizar concurso público para regularização de professores em situação transitória, e abertura de novas vagas, num total de 49.000.

No entanto, para o educador, aprender não basta, porque é preciso pôr em prática as novidades apreendidas. Ou seja, é preciso sonhar e é preciso realizar. E para isso o educador tem de mostrar coragem de não temer o novo. Somente assim é possível aceitar os excluídos, eliminar a segregação, enfim educar para que os alunos e os próprios pais aprendam a aceitar as diferenças, sem pressupostos, sem preconceitos.

Mas sem amor nada acontece, porque é esse o sentimento transformador. O aluno repara como o diretor trata os serventes da escola. E se a criança observa que o servente admira o diretor, tem orgulho de estar e trabalhar na escola, tem motivação porque é visto como funcionário essencial, essa criança aprende o valor do respeito e do afeto. Educar com afeto não quer dizer lamber, paparicar, mas tratar com acolhimento cada pessoa. O último degrau da sabedoria é a simplicidade, já ensinava Aristóteles. E é nos atos mais simples que está manifestada a ternura. Dizer bom dia, apanhar o papel do chão para colocar no lixo, prestar atenção ao que o outro está dizendo, respeitar a fila.

O educador, pelo exemplo, tem sido capaz de ensinar valores que jamais se perderão. Nossos jovens serão mais sinceros, mais trabalhadores, mais respeitosos. Isto é o que se espera do educador: exemplo. Em todos os dias, desde o sinal que anuncia a primeira aula, até no dia da formatura. É lançar-se, com toda a força de sua alma, ao grande sonho de educar, porque o universo inteiro conspirará a seu favor.

Gabriel Chalita é secretário de Estado da Educação