Editorial: Mais um passo para despoluir o Tietê

Jornal da Tarde - Terça-feira, 18 de março de 2008

ter, 18/03/2008 - 9h46 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Editorial

A partir do segundo semestre, o governo do Estado de São Paulo começará a terceira etapa do Projeto Tietê, uma das mais ambiciosas ações ambientais do mundo, para universalizar a coleta de esgotos e atacar a poluição dos afluentes do rio, investindo mais R$ 3 bilhões em 10 anos. Essa quantia corresponde a tudo o que foi gasto em 16 anos para que no fim do ano passado a mancha de poluição na água do rio que corta a Grande São Paulo e o Estado praticamente inteiro no sentido longitudinal recuasse 160 quilômetros. Sempre se soube que não era fácil atingir essa meta, principalmente porque o governo estadual teve de buscá-la sozinho, agindo por meio de suas Companhia de Saneamento Básico (Sabesp), Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e do DAEE, praticamente sem ajuda nenhuma dos 250 municípios banhados por suas águas, inclusive e principalmente a da Capital. Estes, por interesses políticos subalternos e por falta de uma visão administrativa de conjunto, sempre cruzaram os braços e ficaram só apreciando as obras de rebaixamento e alargamento da calha para permitir maior vazão e, em conseqüência, maior dispersão da carga tóxica dos esgotos e da poluição industrial. O Estado fez sua parte ao construir estações de tratamento que nos últimos 10 anos ampliaram de 4 para 11 metros cúbicos o volume de esgoto tratado na região metropolitana. Mas ainda há muito a fazer: das 1.160 indústrias poluidoras identificadas em 1992, 200 ainda poluem as águas do rio. Dos 34 municípios da Grande São Paulo, apenas Biritiba-Mirim trata 100% do esgoto coletado, enquanto 19 nada tratam. Isso resulta no despejo de 690 toneladas de esgoto por dia no Tietê.

Há 16 anos, quando o programa começou, a mancha de poluição do Tietê começava em Itaquaquecetuba, perto da nascente, e chegava a Anhembi, perto da Represa de Barra Bonita. Graças ao empenho do governo estadual, o nível de oxigênio dobrou e os peixes voltaram a nadar no curso que servia de via para a entrada das bandeiras nos tempos coloniais. Ainda há muito a fazer, mas os indícios são positivos: São Caetano promete tratar o esgoto a partir do segundo semestre e, enfim, a pendência entre Guarulhos, a Capital e o Estado não se perenizou desde que a Prefeitura paulistana ameaçou apelar à Justiça para dirimir a questão. Agora, o prefeito petista da cidade anuncia que construirá, com financiamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estações de tratamento de esgoto.

Uma unidade da Sabesp, já pronta, em São Miguel Paulista participará do tratamento dos dejetos de Guarulhos.

Os primeiros sinais de esforço conjunto das prefeituras em socorro à ação estadual são bons presságios, mas a sociedade também terá de participar de forma mais efetiva da despoluição do Tietê. Pois os consumidores terão de pagar contas mais caras para que as redes domésticas de esgoto sejam conectadas às públicas e não haja despejo irregular em galerias pluviais e em córregos.