Ecoturismo e saúde pública

Jornal da Tarde - Opinião - Quarta-feira, 20 de julho de 2005

qua, 20/07/2005 - 10h23 | Do Portal do Governo

Luiz Roberto Barradas Barata

A relação do homem com a natureza por vezes é antagônica, misto de amor e ódio, encantamento e temor. As belezas escondidas em nossas florestas, matas, serras, picos e cachoeiras têm estimulado o espírito aventureiro de muitos cidadãos e expandido as fronteiras do ecoturismo no País.

Nada mais natural, literalmente, já que o Brasil é conhecido internacionalmente pela riqueza de sua fauna e flora, atraindo turistas dos quatro cantos do Planeta. Os brasileiros também aproveitam cada vez mais seus períodos de férias para explorar a natureza, nos mais diversos Estados.

Como responsável pela saúde pública do Estado, não posso deixar de alertar os ecoturistas para a devida prevenção contra doenças que o contato com a natureza pode trazer. Recentemente, os veículos de comunicação noticiaram em todo o País o incidente com o renomado médico Dráuzio Varella, que, por um descuido, deixou de tomar a vacina contra a febre amarela e acabou contraindo a doença em viagem à Amazônia.

Febre amarela é uma doença grave, causada por vírus, que pode levar à morte. Seus principais sintomas são febre alta, dores de cabeça e lombar, icterícia, náuseas, vômito, prostração e calafrios. No Estado de São Paulo não há registro de transmissão autóctone desde 2000, mas quem vai viajar para as Regiões Norte e Centro-Oeste do País, e para os Estados do Maranhão, Piauí e Minas Gerais, além das áreas ribeirinhas na divisa de São Paulo com Minas, deve receber a vacina contra a febre amarela. A vacina é gratuita, tem validade por dez anos e deve ser tomada pelo menos dez dias antes da viagem.

Outras doenças como dengue, leishmaniose, malária, doença de Chagas e doença de Lyme são transmitidas pela picada de insetos infectados. Nesses casos não há vacina disponível e a orientação essencial é para que o viajante se previna contra a picada desses insetos.

Recomenda-se, portanto, que o viajante utilize roupas que cubram a maior parte do corpo. O uso de roupas claras também pode reduzir as chances de aproximação de mosquitos. Nas áreas expostas do corpo é necessário usar repelentes.

Não se pode esquecer da febre tifóide. Na maioria das vezes, a doença é transmitida por intermédio de alimentos contaminados. A água também pode ser um veículo de transmissão, contaminada no próprio manancial (rio, lago ou poço). A indicação, nesse caso, é evitar tomar água sem tratamento, mesmo que à primeira impressão pareça algo saudável. O mesmo procedimento vale para prevenir diarréia.

Também é importante prevenir-se contra os acidentes com animais peçonhentos, como cobras, escorpiões e taturanas. Em 2004, foram notificados 7.600 acidentes desse tipo no Estado. Ao caminhar na mata é importante estar com um calçado adequado, como botas, e evitar o amanhecer e o entardecer do dia, quando as cobras procuram alimentos. Também é importante manter atenção ao recolher gravetos e subir em árvores, já que os animais se ‘escondem’ nestes locais.

O Instituto Butantan, maior produtor de soros e vacinas da América Latina, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, cuida de casos de picadas e ferroadas e orienta por telefone, 24 horas por dia, pelo número (11) 3726-7962. Já os ambulatórios de viajantes, além de oferecer as vacinas, orientam quem pensa em visitar locais pouco comuns ao homem moderno, como cavernas, onde o perigo são os morcegos.

Ainda vale orientar que, se algum sintoma de doença aparecer em até 30 dias após a viagem, é importante comunicar seu médico, informando sobre o local de sua viagem, bem como a atividade desenvolvida, para auxílio no diagnóstico.


Luiz Roberto Barradas Barata é médico sanitarista e secretário de Estado da Saúde de São Paulo