‘É preciso mudar a cultura da Cultura’

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 19 de maio de 2008

seg, 19/05/2008 - 10h37 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Ele quer levar o mundo virtual para a tela da TV e vice-versa. Isso inclui estrear um programa que acontece em uma lan house, colocar o ‘hypado’ Twitter em um dos programas de entrevista mais tradicionais da televisão brasileira, chamar para produzir gente que surgiu no YouTube e, claro, desaguar na rede conteúdos específicos para a web.

Desde o ano passado como presidente da Fundação Padre Anchieta, que mantém a TV Cultura e as rádios Cultura AM e FM, o jornalista Paulo Markun está na busca por quebrar barreiras e misturar, cada vez mais, internet, televisão e rádio. ‘É cada vez mais evidente que nos tornamos produtores de conteúdo, não importa a mídia. Hoje a TV é predominante. Mas quem garante que daqui a dez anos vai continuar? Quem garante que não será uma mistura de tudo: internet, televisão, rádio…?’

Markun diz não ter bola de cristal. Mas na sala de reuniões da Fundação, no bairro da Água Branca, arrisca um palpite, enquanto é maquiado para a foto desta página. ‘Eu, pessoalmente, acho que a web irá se tornar a mídia mais importante em quatro, cinco anos. Mas isso não significa dizer que os outros meios irão acabar: o cinema não acabou com o teatro; a TV não acabou com o rádio. As mídias sobrevivem e encontram seu caminho.’

Enquanto acompanha essa evolução, a ordem na Cultura é experimentar, experimentar e experimentar. ‘Os novos meios são uma das minhas prioridades’, diz ele, que assumiu o cargo em junho de 2007. ‘A idéia é ficar de olho em tudo o que acontece de novo. Temos de estar preparados’. Markun cita com conhecimento sites como Twitter, Joost, OhMyNews, Digg e outros bambambãs que freqüentam as páginas do Link.

Bem informado, hein? Mais ou menos. Ele confessa que o grande responsável por abastecê-lo com informações sobre os bits e bytes é seu filho Pedro, de 22 anos, um consultor informal para assuntos tecnológicos e ‘habitué’ de eventos sobre cultura digital – de BlogCamp e Campus Party à reunião da ONU que discutiu no Rio a internet, em 2007.

‘Hoje já não é mais tão assim, também acompanho novidades. Mas o Pedro sempre está um passo adiante’, diz Markun. ‘Minha aproximação com esse universo se deu por causa dele, que está sempre enfurnado no PC. E eu dizendo: ‘Você nunca vai ser nada na vida, não estuda.’ No fim, tive de dar a mão à palmatória. O Pedro estava certo e aproveitou muito bem o seu tempo.’

Pelas dicas do filho, há cinco anos, o jornalista montou um blog, hoje fora do ar pois ‘presidente não pode ter blog pessoal’. Também se animou a montar um portal de jornalismo colaborativo, o Jornal de Debates (www.jornaldedebates.com.br), onde os internautas opinam sobre os assuntos do dia-a-dia e que hoje é tocado por seu filho.

Todas essas experiências, diz, ele carrega agora para a Fundação. Foi criado um núcleo só para novas mídias. Os sites estão em reforma e já cresceram 11% em audiência entre agosto e abril deste ano. Cerca de 200 entrevistas do Roda Viva devem estar na web em dois meses. E, todos os dias, no jantar, Markun continua batendo aquele papo com o filho para ver o que há de novo. ‘Aí vemos como aplicar na prática.’

Foi daí que nasceu a idéia, por exemplo, de colocar o Twitter no programa Roda Viva. ‘Três blogueiros transmitem o que acontece no programa.’ A novidade estreou na semana passada. Foi daí também que nasceu o site Radar Cultura, um projeto que possibilita aos internautas definirem as músicas que serão veiculadas na rádio Cultura AM, por meio de votos.

No menu digital de Markun e equipe, ainda devem figurar conteúdos para celular, um programa de TV gravado em uma grande lan house em que o público leva o próprio PC (numa espécie de mini Campus Party) e uma série com os mesmos criadores do mitológico vídeo Tapa na Pantera, que fez sucesso no YouTube. Ah, e Markun ainda quer colocar todos os funcionários da Fundação (mesmo quem não for apresentador/artista) com um blog no site da Cultura.

‘É preciso mudar a cultura da Cultura’, diz. ‘Com os blogs, por exemplo, a idéia é fazer com que os funcionários descubram as possibilidades da rede’, diz ele, que deve criar um ‘blog do presidente’. ‘Vamos experimentar e temos espaço para isso, pois não somos uma rede comercial. As novas mídias permitem acertar e errar gastando muito pouco.’