E a Casa Modernista começa a sair do abandono

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 23 de julho de 2004

sex, 23/07/2004 - 12h26 | Do Portal do Governo

Reabertura dos jardins ao público é o primeiro passo para o restauro do sobrado

GIOVANNA BALOGH

A partir do dia 16, a Vila Mariana, na zona sul, terá mais uma área verde aberta aos paulistanos: o jardim da Casa Modernista, com 13 mil metros quadrados. Mas o público ainda terá de esperar para ter acesso ao sobrado, construído em 1927 pelo arquiteto russo Gregori Warchavchik, que será restaurado.

Como ainda não foi feita nenhuma parceria com a iniciativa privada, a Secretaria Estadual de Cultura vai investir R$ 200 mil próprios para iniciar a recuperação da Casa Modernista, no número 325 da Rua Santa Cruz. A restauração total está avaliada em cerca de R$ 1 milhão. Caso não consiga ajuda financeira, a secretária da Cultura, Cláudia Costin, promete restaurar o imóvel ‘aos poucos’ até o fim do mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006.

Nessa primeira fase, custeada pelo governo, que é proprietário da área, será feita a limpeza do local e reconstruída uma trilha para que as pessoas possam caminhar pelo jardim. ‘Também vamos sinalizar e identificar as árvores originais, para que as pessoas conheçam e as preservem’, disse a secretária, que visitou ontem a Casa Modernista.

O jardim foi projetado em 1930 pela mulher de Warchavchik, Mina Klabin. Na época, ela teve o cuidado de plantar apenas espécies da flora brasileira.

Hoje, o mato tomou conta do lugar. Há queixas de existência de cobras e escorpiões, que chegam a invadir casas vizinhas. A verba do governo incluirá cursos (veja ao lado), que serão oferecidos enquanto é restaurado o patrimônio histórico, tombado em 1984.

O tombamento só foi possível com a mobilização de moradores, que fundaram a Associação Pró-Parque Modernista, extinta com o abandono da casa. Eles eram contra a venda do imóvel e sua transformação num condomínio residencial, como pretendiam os herdeiros.

A antiga secretária da associação, Maria Lúcia Ribeiro de Souza, disse que, em 1994, quando vândalos arrebentaram paredes e atearam fogo no local, a entidade acabou. Ela lembra com saudade da época em que os moradores organizavam recitais, peças de teatro e concertos para agitar os fins de semana. ‘Sinto muita falta disso. Agora, temos esperança de ver novamente a casa bonita como nos velhos tempos’, disse Maria Lúcia.

Pólo – Segundo a secretária da Cultura, a Casa Modernista será um pólo cultural da capital. O sobrado de formas retas foi o primeiro exemplar modernista construído na América Latina. O arquiteto Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade, comemora o anúncio da recuperação.

‘Ela é um marco simbólico, não só arquitetônico. A Casa Modernista é uma representante da memória da arquitetura moderna mundial.’

A casa também abrigou encontros importantes para a história nacional: lá estiveram artistas da Semana de Arte de 1922 e foi na Rua Santa Cruz que o arquiteto Lúcio Costa convidou Warchavchik para ser professor da Escola de Belas-Artes do Rio.

Apesar do valor e importância histórica, o jardim e o prédio estão abandonados há pelo menos dez anos. Em 1998, o Estado tentou reformar o imóvel, mas o Ministério Público vetou a obra porque, por ser um patrimônio histórico tombado, seria necessário o restauro e não apenas reparos no local.

Hoje, ela está totalmente abandonada. ‘A casa não tem portas e janelas e perdeu parte do piso. Há muitas infiltrações e o telhado está desabando’, afirmou o presidente da Sociedade de Defesa das Tradições e Progressos da Vila Mariana (Sodepro), Walter Taverna.

A entidade será parceira do Estado na recuperação do patrimônio e vai doar um bolo para celebrar a reabertura do jardim no dia 16, às 10 horas. Os dias e horários de funcionamento ainda não foram definidos. (Colaborou Amanda Romanelli).