Do cortiço para a casa própria

Jornal da Tarde - Quarta-feira, 29 de setembro de 2004

qua, 29/09/2004 - 9h52 | Do Portal do Governo

RITA DE CÁSSIA LOIOLA

Moradores de quartos e pensões do Centro começam a mudança para apartamentos da CDHU, no Brás A vendedora Maria Nunes nem acreditava: estava trocando seu cômodo mofado em um cortiço no Centro por um apartamento ‘de verdade’. Junto com outras 20 famílias, ela se mudou, ontem, para o primeiro conjunto da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano CDHU destinado a moradores de 24 cortiços do centro expandido.

Inaugurados no sábado pelo governador Geraldo Alckmin, os dois prédios da CDHU, no Brás, receberão, até 20 de outubro, seus 200 novos donos. ‘Morava nesse cômodo caindo aos pedaços há 10 anos. Eu e meu marido dormíamos com os ratos, sem janela nem banheiro’, disse, enquanto tentava tirar a geladeira pelo vão da porta de sua antiga casa, um porão na Rua Prates. Seu quarto de 5 m2 sem janelas nem divisórias, tinha fogão, cama, roupas, geladeira, mesa e uma cortina ‘para alegrar o ambiente’. ‘Pagávamos R$ 150 para morar aqui sem conforto.’
Agora, Maria vai pagar R$ 108 por mês para ser proprietária, ao fim de 25 anos, de um apartamento de 40,08 m2, com um quarto, sala, cozinha e banheiro. Os prédios, de 11 e 14 andares, têm dois elevadores, salão de festas e estacionamento. ‘E um chuveiro só para mim!’, festejava a doméstica Maria Helena dos Santos, de 31 anos, ao entrar em sua nova casa, no 7º andar. ‘Adoro tomar banho demorado e na pensão só tinha um banheiro. Alguém sempre estava batendo na porta para entrar.’ Ela também veio com o marido e dois filhos da Rua Prates. ‘Meus móveis estavam todos espalhados pelo corredor da pensão, esperando por uma casa. Finalmente, consegui’, diz, pulando de alegria.

Desde janeiro, os profissionais da CDHU organizaram reuniões com os moradores dos 128 cortiços do centro. A demanda foi levantada por uma pesquisa da Universidade de São Paulo USP, em 1994.

‘Há 600 mil pessoas morando em cortiços na capital, pagando caro, de R$ 60 a R$ 300 pelos cômodos’, afirma Maria Cláudia Brandão, superintendente dos programas de cortiços da CDHU.

Com US$ 220 milhões pagos pelo governo do Estado e Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, o programa atenderá 16 mil famílias até 2011.