Diretora muda escola e seu entorno

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 3 de maio de 2007

qui, 03/05/2007 - 14h08 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

 

A Escola Estadual Irene da Silva Costa – que tem aproximadamente 1,5 mil alunos de 5ª a 8ª séries e fica na periferia de Mauá, Grande São Paulo -, assim como grandes empresas privadas, dá exemplo de sustentabilidade. Mesmo localizada em uma região de alta vulnerabilidade social, por meio de uma gestão democrática, a escola conseguiu engajar a comunidade no plantio de árvores no seu entorno com o intuito de preservar o meio ambiente e diminuir os ratos e o lixo descartados na região.

E não foi só o meio ambiente, mas a questão social e econômica também foram contempladas na gestão da diretora Hilda de Jesus Soares, que assumiu o cargo em 2001. “Quando cheguei no Irene me deparei com altos índices de violência. Os banheiros não tinham portas, as brigas eram constantes e o número de alunos assassinados anualmente por causa da violência e do tráfico da região girava em torno de 5 e 6.”

Neste momento inicial, Hilda enfrentou resistência. “Ao me deparar com aquele cenário, logo disse aos professores que iria colocar portas no banheiro e eles logo disseram que não duraria um dia. Dito e feito, pois as novas portas rapidamente foram quebradas pelos alunos. Ao ter aquela decepção, fui de sala em sala, olhei nos olhos dos alunos e expliquei a importância de termos um diálogo próximo e eu estaria ali para ouvi-los. Desde então os banheiros foram preservados e hoje, além de espelhos, deixamos até sabonete líquido para os alunos.”

Comunidade

Hilda conta que o começo de sua gestão não foi fácil. “Percebi que sem a participação da comunidade seria difícil reverter os índices de violência. Então, não hesitei e fui de porta em porta no comércio e igrejas locais, me apresentei e pedi ajuda com cestas básicas, as quais eram sorteadas após as reuniões de pais para atrair as famílias carentes.”

Aos poucos, os pais dos alunos e os professores foram se aproximando de Hilda e as reuniões de pais e mestres, que antes era vazia, passaram a ser concorridíssimas. “A Hilda veio até a minha loja e falou das dificuldades de dialogar com as famílias. Apresentou a idéia de distribuir cestas básicas para chamar os pais e este foi o início de uma parceria com a comunidade que dura até hoje, pois uma nova maneira de pensar a escola foi instituída desde então”, afirma Edson Moriconi, dono de uma casa de frios.

O exemplo prático desta parceria foi a recente mobilização da comunidade para o plantio de árvores. “Por causa do lixo descartado pela comunidade, a escola sofria com os ratos. Fizemos uma carta, falamos com os vizinhos, igreja e estabelecimento comerciais. O resultado foi o plantio de árvores em todo o entorno da escola. Hoje não temos mais ratos nem lixo no entorno.”

O professor de história Milton Vaz da Silva destaca a gestão democrática da EE Irene. “Temos muita liberdade. Quando era substituto de uma turma e tive de deixar para assumir outras aulas, os alunos foram até à minha casa conversar comigo. Fica difícil não se envolver em uma escola como essa.”

Para Zilda Assis, coordenadora pedagógica, o resultado da parceria com a comunidade pode ser visto nos projetos. “Temos um projeto de cinema em uma sala de vídeo onde os professores sempre exibem filmes, as calçadas têm mosaicos assim como as ruas da Vila Madalena.”

Família

A assistente de limpeza Valdilene Cavalcanti, mãe de Samantha, que é ex-aluna da EE Irene da Silva Costa, não só criou o hábito de participar das reuniões e festas da escola, como voltou a estudar. “A escola era decadente, tinha muita briga. Mas, quando a Hilda assumiu a direção, os professores se uniram e a escola mudou. Até decidi voltar a estudar” diz Valdilene, que atualmente freqüenta a Educação de Jovens e Adultos à noite. Seu marido, o manobrista Valmir Rodolfo, é enfático. “Os funcionários da escola sabem que se precisarem de qualquer coisa, se nos ligarem de madrugada, estaremos prontos a ajudar.”