Diretor de escola em NY vê semelhanças com rede de SP

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 22 de agosto de 2007

qua, 22/08/2007 - 12h20 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O americano loiro e grandalhão chama a atenção no meio do recreio da escola estadual na periferia de São Bernardo do Campo. “Ele fala inglês?”, pergunta uma das crianças. “Vem conhecer a minha sala”, pede outra. Claro, ele fala inglês – mas também português. O historiador Nathan Dudley, que veio pela primeira vez ao Brasil nos anos 80 com um grupo interessado na Teologia da Libertação, voltou ao País nesta semana para conhecer a rede de ensino paulista.

Dudley é hoje diretor de uma escola no Brooklyn, em Nova York, e vive a mudança radical promovida na educação pública da cidade. Nas últimas décadas, Nova York, assim como São Paulo, assistiu à deterioração de suas escolas com o crescimento do número de alunos, da criminalidade, da falta de incentivos. O índice de concluintes do ensino médio não chegava a 50%. Cerca de 70% dos alunos de 8ª série não dominavam competências de matemática e inglês.

A reforma educacional começou em 2002, quando Michael Bloomberg assumiu a prefeitura da cidade. A essência da reestruturação foi uma nova política de incentivos. Professores que quiseram trabalhar na periferia passaram a ganhar US$ 10 mil a mais; advogados, médicos, engenheiros foram chamados a dar aulas e as escolas passaram a receber notas de A a F. Agora, as que demonstram melhora são premiadas; as que só pioram, fechadas. Dudley vê com bom olhos a política semelhante que São Paulo anunciou nesta semana. O governo vai premiar escolas que melhorarem o desempenho dos alunos e também a gestão. “Por lembrar a mentalidade de empresa privada, isso é polêmico no mundo todo, mas tem funcionado”, diz.

A reforma em Nova York deu autonomia a diretores para lidar com recursos e contratar professores. Dudley dirige a New York Harbor School, que se transformou em uma das 200 escolas temáticas da cidade. O tema, nesse caso, é o mar e as pesquisas que derivam dele. O assunto passa por todas as disciplinas. Quem se interessa por isso se inscreve para estudar no ensino médio de lá. “Acabou a regionalização (estudar no bairro onde se mora). Para a educação dar certo, no mínimo é preciso que o menino esteja interessado em estar naquele lugar.”

O diretor veio a São Paulo a convite do Instituto Fernand Braudel. Numa das escola que visitou, perguntou a um aluno se via muitas brigas por lá. “Aqui? Nunca”, respondeu o menino. Acostumado a lidar com gangues dentro da escola em Nova York, Dudley foi embora feliz.