Dieta do paulistano exclui verde

O Estado de S. Paulo - Quarta-feira, 24 de Agosto de 2005

qua, 24/08/2005 - 10h39 | Do Portal do Governo

Só metade dos moradores consome verduras, frutas e legumes regularmente, revela pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde

Ricardo Westin

Frutas, verduras e legumes não fazem parte do cardápio diário de praticamente metade dos paulistanos. As frutas são consumidas regularmente (pelo menos cinco vezes por semana) por 55,1% dos habitantes da cidade de São Paulo. As verduras, por 46,8%. Os legumes são menos consumidos ainda, por 41,3%.

Esses números foram obtidos por meio de uma pesquisa domiciliar feita na capital paulista nos anos de 2001 e 2002 pela Secretaria de Estado da Saúde. Cerca de 800 pessoas com idade entre 15 e 59 anos e de todas as regiões da cidade responderam a 80 perguntas sobre seus hábitos alimentares.

O sexo, a idade e a escolaridade das pessoas entrevistadas não tiveram influência na quantidade consumida de frutas, verduras e legumes. Os índices se mantiveram sempre ao redor dos 50%.

O alimento mais consumido com regularidade, por 53,3% dos paulistanos, é a alface. Em seguida, vêm o tomate, a laranja (ambos por 37,9%), a cenoura (33,3%), a banana (30,1%) e a maçã (10,8%). As demais frutas (como mamão, melancia, uva, goiaba e morango) e os demais vegetais (como rúcula, repolho, couve, beterraba e brócolis) são consumidos por menos de 10%.

Riscos Aumentados

Os dados são preocupantes. Para ajudar a manter uma vida saudável, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo mínimo de 400 gramas de frutas, legumes e verduras todos os dias.

De acordo com o Fundo Mundial para a Pesquisa do Câncer, uma dieta com grande quantidade e variedade de vegetais previne pelo menos 20% dos casos de câncer. O Relatório Mundial sobre Saúde, da OMS, calcula que o baixo consumo desses alimentos esteja associado a cerca de 30% das doenças isquêmicas do coração e 10% dos casos de derrame no mundo.

‘Os hábitos alimentares dos brasileiros têm piorado muito nos últimos anos. Isso tem efeito direto na saúde. Precisamos encontrar formas de incentivar o consumo de alimentos saudáveis’, diz a nutricionista Africa Isabel Neumann, a coordenadora da pesquisa.

Segundo ela, um dos motivos para a diminuição do consumo de vegetais é o crescimento da oferta de alimentos processados e ricos em gordura. ‘Antes, não tínhamos tantas opções no supermercado. Vemos muitas propagandas de comida na televisão, mas nenhuma de fruta ou verdura. Além disso, embora seja danosa para a saúde, a gordura é muito mais saborosa.’

Esse inquérito alimentar faz parte de uma pesquisa maior, que incluiu ainda uma sondagem sobre atividade física e outra sobre tabagismo entre os paulistanos.

A alimentação ruim, o sedentarismo e o hábito de fumar são os três grandes fatores de risco das chamadas doenças crônicas não transmissíveis, como câncer, diabete, hipertensão, osteoporose, obesidade e problemas cardiovasculares.

Teatro Infantil

A nutricionista Nídia Denise Pucci é uma das responsáveis pela dieta das pessoas internadas no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Uma das tarefas mais difíceis que ela tinha era convencer os pacientes a encarar os vegetais. A rejeição era maior entre as crianças.

‘No começo, os profissionais forçavam as crianças a comer. Nós percebemos que aquilo era pior, porque acabava criando na criança uma resistência ainda maior ao alimento’, conta.

A solução veio com a arte. Em 2002, as nutricionistas do hospital tiveram a idéia de criar um teatro de fantoches em que os personagens eram frutas, legumes e vegetais que, em histórias lúdicas, falavam de suas respectivas importâncias para a saúde. ‘As crianças passaram a aceitar a dieta e, com isso, começaram a se recuperar com muito mais rapidez’, diz Nídia.

A próxima apresentação teatral será amanhã, às 15 horas, na Unidade de Queimados do Hospital das Clínicas.

Segundo a nutricionista, é importante que os pais incentivem os filhos a comer vegetais desde a infância. ‘Alguns desses alimentos têm gosto amargo. Primeiro é preciso acostumar o paladar. Depois é que você começa a apreciar.’