Detetive das artes

Catraca Livre - Quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

qua, 17/12/2008 - 11h33 | Do Portal do Governo

Catraca Livre

Investigador policial usa internet para criar museu. A fim de catalogar obras esquecidas em repartições públicas de artistas como Portinari e Di Cavalcanti, Pedro Jacinto desenvolveu um site. Leia a história completa:

Pedro Jacinto Cavalheiro não sabia direito o que significava o cargo de desenhista pericial oferecido pela Polícia Civil.

Como gostava de desenhar e precisava de dinheiro, entrou no concurso e venceu -e assim, por 17 anos, desenhou as cenas dos crimes feitas para que os juízes avaliassem melhor um inquérito. A entrada na polícia foi o caminho para que, agora, ele tenha se convertido numa espécie de detetive à procura de tesouros artísticos esquecidos ou perdidos nas repartições públicas.

Entre esses tesouros, há obras de Portinari, Volpi, Benedito Calixto, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, além de peças do século 15. “Já localizei e cataloguei 3.000 obras”, orgulha-se.

Desde menino, Pedro Jacinto desenhava e acabou professor de artes.

Mas o dinheiro de professor era muito baixo e foi se interessar pela tal vaga na Polícia Civil. Um caso em especial chamou sua atenção -o furto de uma obra de arte. O fato levou-o a fazer um mestrado na USP sobre falsificação de quadros, ao perceber que, na polícia, ninguém tinha esse tipo de conhecimento.

Passou a ficar atento aos quadros e esculturas das repartições públicas, como empresas estatais, secretarias ou autarquias. “Descobri que ninguém sabia o que tínhamos.”

Numa rápida conversa de corredor, sugeriu a Claudio Lembo, então governador, que se fizesse uma investigação e catalogação dessas obras, muitas delas em risco por falta de conservação.

Pedro Jacinto começou a disparar pedidos para que lhe enviassem a lista das obras. “Eu me sentia um detetive.” Um detetive encantado com sua tarefa, por descobrir quadros de Portinari, Volpi ou Di Cavalcanti, ilustrando apenas modorrentos serviços burocráticos. “Precisava encontrar uma solução para que tudo isso fosse conhecido e visitado.”

A solução estava na criação do site, no qual se pudesse ver o catálogo. Com seu passado de professor de artes, ele próprio escreveu sobre cada artista e, ainda por cima, fez os desenhos de seus rostos.

Quase sem gastar nada, acabou montando um museu virtual, ainda desconhecido. Mas o virtual leva ao presencial -o site permite que se agendem visitas para ver as obras, espalhadas em centenas de repartições públicas, a maior parte delas na cidade de São Paulo. “Nasceu um museu duplamente virtual. Além da internet, ele está espalhado por todos os lados.”