Desenvolvimento comprometido

Jornal da Tarde

qua, 02/12/2009 - 8h06 | Do Portal do Governo

Na escola, as crianças entre 7 e 11 anos aprendem matemática, melhoram sua capacidade de comunicação e de interação com as pessoas e conhecem mundos novos apresentados por professores e outros profissionais de educação. Nessa faixa etária, o desenvolvimento do sistema nervoso central facilita o aprendizado e a fixação de hábitos como estudar, praticar esportes e usar drogas.

O leitor não se confundiu. As palavras que encerram o parágrafo anterior estão corretas. A larga imaturidade orgânica da criança permite que assuma hábitos com facilidade, especialmente se eles envolvem prazer. Isso vale para música, leitura, esportes, carinho, socialização, mas também para o uso sistematizado de tabaco, álcool e de outras substâncias.

Essa problemática foi evidenciada por uma pesquisa do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), ligado à Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo. O levantamento realizado entre 2007 e 2009 com 112 jovens atendidos pela instituição mostrou que 40% dos dependentes de drogas no Estado começaram a usar substâncias entre 7 e 11 anos. Os números reforçam uma realidade conhecida por quem atende e pesquisa a área de dependência química: o uso de drogas no Brasil tem começado cada vez mais cedo. Normalmente, crianças e adolescentes iniciam com o álcool e o tabaco e passam para a maconha e a cocaína.

Sabe-se que o uso de tais substâncias envelhece o organismo precocemente e torna o indivíduo menos criativo e resolutivo do que o seria por natureza. Assim, a chance de se instalar um quadro de dependência química é inversamente proporcional à idade em que se inicia o uso de drogas.

Como a experimentação das drogas acontece por anuência ou negligência dos pais, as alternativas para o problema passam pela participação da família. O uso de tabaco, álcool e outras drogas costuma ocupar o espaço deixado pela falta de assistência doméstica.

A melhor forma de evitar que um filho seja exposto ao uso de drogas é estar do seu lado. Saber responder às famosas três perguntas (onde está, com quem está e o que seu filho está fazendo) reduz brutalmente o risco de experimentação e sistematização do uso de quaisquer substâncias.

É claro que essas medidas preventivas não são capazes de resolver todo o problema. Há questões sociais maiores ligadas ao tema, que devem ser reconhecidas e enfrentadas pelas autoridades responsáveis. Um bom começo para o combate ao uso precoce de substâncias é a valorização de evidências científicas que apontam para a efetividade de intervenções como o controle de propaganda, elevação de preços e restrição para venda de drogas legais. O uso de álcool, tabaco e de outras drogas é um grave problema de saúde e não meramente uma questão ideológica ou moral.

Carlos Salgado é presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas