Depressão e asma são doenças que mais atingem os jovens em SP

Diário de S. Paulo - Terça-feira, 13 de janeiro de 2004

ter, 13/01/2004 - 14h22 | Do Portal do Governo

Levantamento revela que as doenças sexualmente transmissíveis também estão no ranking dos dez problemas que mais afetam os adolescentes

Luciana Sobral

Nem álcool, nem drogas. Diferentemente do que muitos pais imaginam, a dependência química está longe de ser o problema que mais afeta a saúde dos adolescentes paulistas. Quem ocupa o primeiro lugar no ranking das dez doenças mais freqüentes nos jovens de São Paulo é o grupo dos distúrbios psicológicos que incluem desde a depressão, o déficit de aprendizado, distúrbios alimentares até as dificuldades sexuais. O problema atinge cerca de 35% dos adolescentes.

Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Programa de Atenção Integral à Saúde do Adolescente, da Secretaria Estadual de Saúde, com base em cerca de 300 mil fichas de pacientes cadastrados no sistema. O trabalho revelou que praticamente um em cada cinco jovens atendidos na rede pública de saúde apresenta problemas respiratórios. A asma e a pneumonia ficam com a segunda colocação na lista de doenças mais comuns (veja quadro. A soma total não é 100% porque o mesmo paciente pode estar em atendimento para doenças diferentes como depressão e asma).

O outro calcanhar-de-aquiles da saúde dos jovens, apontado pelo estudo, diz respeito às doenças sexualmente transmissíveis. Cerca de 15% dos adolescentes que chegam aos serviços especializados têm pelo menos uma DST. “Com exceção das doenças respiratórias, os outros problemas são causados principalmente pela baixa auto-estima, que leva à depressão ou a uma vida sexual de risco”, afirma Albertina Duarte, coordenadora do programa.

Durante dez anos de trabalho na Casa do Adolescente, um ambulatório especializado em jovens, a médica percebeu que a dificuldade de sociabilização na escola é um dos motivos que tem deixado os adolescentes tristes e deprimidos. “Sempre digo que a principal doença do adolescente é a falta de acolhimento”, diz a médica.

Vítima da depressão desde os 12 anos, a estudante Fernanda Martins de Freitas, de 16 anos, começou a ter crises freqüentes depois de mudar de colégio. “A terapia me ajudou bastante, mas ainda preciso tomar medicamento para controlar o problema”, conta a adolescente, que encara a depressão com bastante naturalidade.

A estudante, que participou durante anos da Oficina de Sentimentos, um dos grupos de discussão da Casa do Adolescente, ainda sofre com um problema comum entre as jovens brasileiras: a cólica menstrual. De acordo com Thereza De Lamare Franco Netto, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente e do Jovem, do Ministério da Saúde, quase metade das meninas atendidas pela rede pública tem algum distúrbio ginecológico ou sexual.

“Além dos problemas emocionais, as garotas são as principais vítimas de DSTs, inclusive do vírus HIV, e de disfunções sexuais”, comenta Thereza. No ano passado, a Coordenação Nacional de DST e Aids registrou no país 43 novos casos da doença entre meninos de 13 a 19 anos e 187 entre as meninas.

Prazer

Uma pesquisa feita pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo demostrou que 48% das garotas com vida sexual ativa não sente prazer na relação. “Muitas sentem dor, mas se privam de conversar com o companheiro por vergonha, medo e insegurança, típicos da idade”, acrescenta Albertina.

Mas as inquietações com a sexualidade estão longe de ser exclusividade da população jovem feminina. Os garotos também podem ter problemas sérios com o tema. “Sempre andei com as meninas na escola. Mas quando os garotos começaram a me chamar de gay, fiquei meio confuso. Até me perguntei se eu era homossexual”, lembra o estudante Luiz Fernando Soares, de 14 anos, que agora brinca com o assunto e diz ter vários amigos.

Há três meses namorando com uma antiga colega de infância, o estudante conta que procurou uma psicóloga depois de ter problemas na escola, também com colegas. “Um menino me ameaçou com uma arma porque eu beijei sua namorada”, conta Fernando, que ficou dois meses sem sair de casa com trauma.

Crescimento

Outra preocupação dos médicos com relação à saúde dos jovens diz respeito ao crescimento. “Estes problemas poderiam ser diagnosticados e evitados na infância. Por isso, o ministério está reforçando a atenção nos postos”, diz Thereza.