De volta para o futuro

A Tribuna - Santos - Sábado, 13 de novembro de 2004

sáb, 13/11/2004 - 13h54 | Do Portal do Governo

Tribuna Livre

Gabriel Chalita (*)

Para muita gente, talvez a mais cara lembrança da infância seja a sessão de cinema dos domingos. Quem não se lembra do filme Cine Paradiso, do diretor Giuseppe Tomatore? Numa pequena cidade italiana, um velho operador de máquina de projeção democratizou o cinema para quem não podia pagar, projetando filmes em paredes de casas, permitindo a todos os habitantes assistirem aos filmes ao ar livre, de graça. É um filme comovente, e ao mesmo tempo educativo, porque ensina geografia, diferenças culturais, língua etc. Esse é o papel do cinema, que ninguém contesta. O que é triste é verificar que as sessões de cinema, nas cidades do interior e mesmo nos bairros de periferia das capitais, que costumavam ser um entretenimento social — foram expulsas da vida cultural das cidades com o advento do vídeocassete, das TVs por assinatura e dos complexos de exibição dos grandes shoppings centers.

Falar das sessões de cinema das tardes de domingo da nossa infância não tem a ver com saudosismo, simplesmente. Trata-se de reconhecer que ir ao cinema é algo caro para muitas pessoas. E que isto elimina do repertório cultural de um grande volume de jovens, crianças e até pessoas maduras um elemento de grande contribuição de enriquecimento intelectual.

Com isto em mente o Programa Escola da Família, criado há um ano pelo governador Geraldo Alckmin e que já levou 68 milhões de pessoas às escolas nos fins de semana, acaba de implantar sessões gratuitas de cinema, aos domingos, em mais de 3.500 escolas da rede pública de ensino, com um potencial de atendimento a pelo menos dois milhões de pessoas que de outra forma não teriam oportunidade de assistir a filmes de primeira linha, tanto brasileiros quanto estrangeiros. A sessão inaugural do Projeto Cine Família, que exibiu o filme brasileiro Tainá, uma aventura na Amazônia, foi um comovido reencontro das famílias com seus filhos e com parte da cultura do Brasil. Um encontro propiciado pela parceria entre a Secretaria de Estado da Educação, a Europa Filmes e a CineMagia, e que vai promover a ampliação do contexto cultural da comunidade, favorecendo também a integração da escola com a comunidade nos fins de semana. O filme trata das emocionantes aventuras de uma indiazinha órfã que vive com o avô, o velho e sábio Tigê, em um belo recanto do Rio Negro, na Amazônia. Ela aprende as lendas e histórias de seu povo, convivendo intimamente com a floresta e seus animais. Aos poucos, Tainá vai se transformando em uma guardiã da floresta.

Os filmes são selecionados tendo por base a proposta pedagógica do Programa Escola da Família e todas as sessões são realizadas dentro do próprio espaço escolar com o acompanhamento de educador profissional, universitário ou um voluntário do Programa Escola da Família. As sessões são francas e abertas à comunidade e o filme em cartaz é anunciado com antecedência para que as famílias se programem para acompanhar os filhos.

A implantação do Projeto Cine Família, todos os domingos, das 14 às 16 horas, nos remete à frase do pensador Robert Frost: ‘‘Antes de construir um muro, eu pergunto sempre quem estou murando e quem estou deixando de fora’’.

Há de chegar o dia em que não será preciso haver muros nas escolas a separá-las de suas comunidades, nem barreiras nas fronteiras a separar os países de seus vizinhos. Cinema também ajuda a ensinar a lição da liberdade e da fraternidade.

(*) Gabriel Chalita é secretário estadual da Educação.