Da velha Detenção para o Parque da Juventude

O Estado de S. Paulo - 8/12/2002

dom, 08/12/2002 - 14h49 | Do Portal do Governo

Implosão de pavilhões abre espaço para o mais novo centro paulistano de lazer e cultura

Quando 250 quilos de explosivos forem detonados hoje, às 11 horas, virão abaixo três dos sete pavilhões da Casa de Detenção desativada, parte do Complexo Penitenciário do Carandiru.

Junto das 80 toneladas de entulho espalhadas pelo chão, lembranças de fugas, rebeliões, um massacre, 46 anos de história. O governo do Estado, entretanto, promete substituir tantas más recordações e ocupar a área com o Parque da Juventude, um complexo de lazer, educação e cultura. Se for concretizado, o projeto deve trazer alívio aos moradores e pode impulsionar o desenvolvimento urbano da região.

A discussão é antiga. Há muito se fala em tirar da zona norte o ‘barril de pólvora’ que amedrontava moradores. Chegou-se a discutir a retirada de todo o complexo de lá, mas a idéia não vingou. Pelo menos por enquanto.

Pemanecerão a Penitenciária Feminina e a Penitencária do Estado, entre outros prédios.

O projeto que dará um novo uso à área foi escolhido num concurso público realizado em 1999, em conjunto com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Segundo a secretária da Juventude, Esportes e Lazer, Luciana Toledo Temer Castelo Branco, inicialmente, a idéia era construir apenas um parque.

Depois de ouvir os moradores, o governo constatou que havia também a necessidade de oferecer cursos. O projeto foi, então, adaptado.

Quadra – A primeira fase é composta pelo Parque Esportivo e deve ser entregue, de acordo com Luciana, em setembro. Com cerca de 380 metros de comprimento e adaptada para ser usada à noite, essa parte do parque terá dez quadras poliesportivas – incluindo dois campos de futebol -, pistas de cooper e skate. As atividades serão monitoradas.

A secretária espera entregar a segunda fase também em setembro. O Parque Central deve ter gramados, passeios, ciclovias e um anfiteatro. As águas do canal do Rio Carajás serão tratadas para a piscicultura ornamental. Parte da muralha será preservada para prática de rapel. Nessa área serão mantidos edifícios tombados – entre eles, uma edificação projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo.

A última etapa deve ser entregue à população apenas daqui a dois anos. É no Parque Institucional que ficarão um centro cultural, um centro de excelência para o terceiro setor, uma Fatec e um centro de tecnologia da informação e inclusão digital. A idéia é oferecer cursos de música, dança e artes cênicas, educação profissional, uma biblioteca virtual, um infocentro e ainda facilitar o desenvolvimento de organizações não-governamentais.

Desde 15 de outubro, cerca de 200 homens trabalham na demolição da parte interna dos quatro pavilhões que permanecerão na área da Casa de Detenção e serão reaproveitados no Parque Institucional.

Embora as duas últimas etapas ainda não tenham o processo de licitação concluído, há uma estimativa de que o projeto atinja os R$ 22 milhões. O único custo fechado é o da primeira fase: R$ 5,8 milhões.

O projeto anima os moradores. Muita gente tem esperança de que o parque colabore para o processo de revitalização da área. ‘A região sempre teve um comércio ruim e um metro quadrado barato’, afirma o superintendente da Associação Comercial de São Paulo, distrital Vila Maria, José Bueno de Souza. Segundo ele, entretanto, a valorização do bairro já está ocorrendo.

A urbanista Raquel Rolnik lembra que a Prefeitura prevê uma operação urbana para a região do Carandiru e não se pode perder a oportunidade de estimular o desenvolvimento do bairro com a chegada do parque. ‘O problema é que a operação tem apenas a área delimitada, mas ainda não tem diretrizes’, explica. A Assessoria de Imprensa da Secretaria do Planejamento Urbano informou que as diretrizes devem estar prontas até 30 de abril, quando a Subprefeitura de Santana entregar o plano diretor da região.