Custe o que custar

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 28 de julho de 2005

qui, 28/07/2005 - 9h24 | Do Portal do Governo

Editorial

A operação que levou à apreensão de livros contábeis e de um verdadeiro arsenal, além da prisão de oito importantes integrantes do Primeiro Comando da Capital PCC, se por um lado mostra a eficiência da polícia, por outro vem lembrar que esse grupo criminoso mantém um alto nível de organização e, para desmantelá-lo, será necessário um longo e paciente trabalho.

Seis meses de investigação, durante os quais foram grampeados 50 telefones e gravadas 500 horas de conversas entre os bandidos, permitiram aos policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) apreender metralhadoras, fuzis, lança-granadas, dinamite e farta munição, avaliados em R$ 500 mil, além de R$ 156 mil, US$ 2.300, quatro carros, uma moto, 42 comprimidos de ecstasy e 1 quilo de cocaína. De acordo com a polícia, isto é apenas a metade do que constava da lista de armas do grupo.

Tão ou mais importante ainda do que isto foram as oito prisões feitas e a apreensão de livros contábeis, porque permitem ter uma idéia dos recursos de que dispõe o PCC e trazem novas informações sobre sua organização. Entre os presos estão Cynthia Giglioli da Silva, a namorada do chefão do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que recebia mesada de R$ 15 mil, e o contador do grupo, Deivid Surur. E também, para surpresa da polícia, o investigador Paulo Humberto Mangini, do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), o que mostra o poder de corrupção e aliciamento do PCC.

Os livros contábeis indicam que em abril a arrecadação do PCC foi de R$ 647.168,00, provenientes do tráfico de drogas, aluguel de armas e mensalidades – R$ 50,00 dos ‘irmãos’ presos e R$ 500,00 dos que estão em liberdade. Em alguns meses, ela chegou a R$ 1 milhão. O Estado foi dividido em sete áreas controladas por ‘gerentes’ responsáveis pelo recolhimento do dinheiro. Tudo isto vem confirmar, com riqueza de detalhes, o que já se sabia, isto é, que o PCC se transformou, dentro das prisões – de onde é comandado – e fora delas, num dos grupos criminosos mais bem organizados e perigosos.

Sua arrogância não parece ter limites. Em resposta à operação policial, ele ameaça – como mostram escutas telefônicas feitas pela polícia – ‘quebrar a paz’ e voltar a cometer atentados como os que atingiram, em 2002 e 2003, vários postos policiais e fóruns na capital e no interior.

Desmantelar o PCC, como mostra a experiência, não é tarefa fácil. Como diz o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic, ‘o PCC se reorganiza e a gente desorganiza’. Trata-se, pois, de um trabalho que exige paciência e determinação. Mas ele tem de ser feito, custe o que custar, porque o controle que o PCC exerce hoje em grande parte do sistema penitenciário é intolerável e sua influência cresce rapidamente também fora das prisões.