Curso formará ‘escritor profissional’

Folha de S. Paulo - Terça-feira, 9 de agosto de 2005

ter, 09/08/2005 - 9h29 | Do Portal do Governo

Unicamp vai ministrar, a partir de 2006, a primeira graduação em estudos literários do país

Da Reportagem Local

‘Fui estudar direito porque os escritores estudavam direito, muitos.’ O escritor e jornalista Otto Lara Resende (1922-1992) explicava assim o percurso que traçou até o mundo das letras.

Hoje, um aspirante a escritor tem a opção de fazer uma graduação que o prepare para o ofício. Em 2006, 20 estudantes integrarão a primeira turma de bacharelado em estudos literários do país. O curso será ministrado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

No entanto o candidato que ingressar no curso não vai se tornar, obrigatoriamente, um escritor. De acordo com o coordenador do curso, Leonardo Affonso de Miranda Pereira, o bacharel poderá atuar tanto na área acadêmica quanto na produção cultural.

‘Não se trata, necessariamente, de formar escritores profissionais. O que o novo bacharelado oferece é uma formação sólida na área de estudos literários, a partir da qual os formados podem desenvolver seu talento em diferentes áreas de atuação, que vão da pesquisa à criação’, explica.

Segundo Pereira, outros campos, como a crítica literária, a mídia impressa e a eletrônica, a publicidade e a produção de roteiros para obras audiovisuais estão no foco desse profissional.

O que será estudado

Para chegar até a atuação profissional, porém, os universitários terão de se dedicar muito à literatura, principalmente brasileira e portuguesa.

Pereira afirma que o curso está formulado em quatro séries de disciplinas. A primeira aborda os gêneros textuais, como a prosa ficcional, o teatro, a poesia e a crítica. Na segunda, de caráter mais prático, os estudantes farão diversas pesquisas nas diferentes áreas dos estudos literários.

A literatura brasileira será analisada na terceira parte e, por último, o aluno vai se ater às questões da teoria e da história da literatura. Nessa parte também será estudada literatura estrangeira. ‘Além dessas séries, o currículo incorpora duas disciplinas que tratarão especificamente da literatura clássica’, afirma o coordenador.

Foi esse aprofundamento nas questões literárias que despertou o interesse de Luis Fernando de Carvalho Rabello, 17. A vontade de integrar a primeira turma do curso é tanta que Luis criou até uma comunidade no Orkut -site de relacionamentos- com o nome da graduação.

Admirador de Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa, Luis afirma que a vontade de ampliar o que está aprendendo no ensino médio o levou a escolher o curso. ‘Meu interesse por literatura surgiu no primeiro ano do ensino médio. Mas quero saber mais sobre a história da literatura.’

Além da inclinação pela teoria, ele afirma querer trabalhar com elaboração de roteiros, principalmente com os de filmes.

A escolha do curso, segundo ele, preocupou seus pais. ‘Eles ficaram meio receosos. Querem saber onde é que vou trabalhar.’

Leonardo Pereira, por outro lado, afirma que no mercado há diversas possibilidades de atuação. ‘Dada a sua formação ao mesmo tempo especializada e generalista, o graduado poderá atuar como produtor textual, editor, revisor, assessor ou consultor técnico, além dos limites entre as artes e as ciências humanas.’ (ALEXANDRE NOBESCHI)