Crise foi positiva, diz Carlos Vogt

Folha de S.Paulo - Sexta-feira, 17 de agosto de 2007

sex, 17/08/2007 - 14h00 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

A invasão da reitoria da USP, a greve nas instituições de ensino superior e as manifestações públicas de professores renomados contra o governo José Serra (PSDB-SP) tiveram resultados positivos para as universidades. Essa é a avaliação do novo secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt.

Em seu entendimento, a autonomia das escolas foi reforçada com a publicação do decreto declaratório feita por Serra, quando a invasão completava 29 dias. No documento, o governador dizia que a intenção era esclarecer dúvidas sobre o tema. O decreto retirou atribuições da nova secretaria e afirmava, formalmente, que não buscava interferir na autonomia das universidades -crítica feita tanto pelos invasores da reitoria quanto por professores renomados como Alfredo Bosi e Antonio Candido.

A situação criou desgaste ao então secretário José Aristodemo Pinotti. Na semana passada, ele deixou o cargo, alegando “motivos pessoais”. Pinotti deu lugar a Vogt, que presidia a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Ele foi também reitor da Unicamp. Leia abaixo a entrevista concedida ontem por Vogt, 64. Poeta e lingüista, o novo secretário afirma não pertencer a nenhum partido político.

 

FOLHA – Como o sr. analisa a crise do primeiro semestre?

CARLOS VOGT –
O governo publicou decretos para reordenar o aparelho de administração do Estado. Criou a secretaria, o que é interessante, pois agora há uma pasta tematicamente tratando dos assuntos das universidades. Mas o movimento sentiu isso como algo problemático, uma possível diminuição do que havia conquistado. Considero que ocorreu um processo de ajuste e que o resultado foi positivo para a autonomia com a publicação do decreto declaratório. Passamos a ter o que não tínhamos. Antes, havia um decreto muito sumário, de 1989. O decreto veio a esclarecer diversos pontos.

FOLHA – Mas esclarece dúvidas criadas pelo próprio governo Serra. Como isso pode ser um avanço?

VOGT – Ele também formaliza de uma maneira mais consistente o exercício da autonomia. O vazio que existia permitiu esses movimentos que podem gerar mal-entendidos.

FOLHA – O decreto não esvaziou a secretaria? Ele diz, por exemplo, que as atribuições do secretário não valem para as universidades.

VOGT – O governo está certo. O que faz funcionar bem as universidades e a Fapesp? É a autonomia delas. A secretaria busca otimizar os esforços e não tem ambição de administrar a vida das universidades. Muito menos terá em relação à Fapesp. Por que digo isso? Porque a Fapesp vem para cá, já está definido pelo governador [a separação das universidades da Fapesp em secretarias diferentes era uma das críticas].

FOLHA – Qual será a prioridade?

VOGT – Temos a função de gestão do sistema de ensino superior, de otimização das condições de funcionamento.

FOLHA – Na prática, o que é isso?

VOGT – A graduação funciona bem, tem um atendimento poderoso, mas há um desafio enorme de atendimento de demanda [procura por vagas]. Uma das propostas que apresentei ao governador, ainda na Fapesp, foi a criação de uma universidade aberta, virtual. O conteúdo seria veiculado por meio da TV Cultura. Com a implantação da TV digital, a Cultura poderá transmitir em até seis canais. USP, Unesp, Unicamp e outras universidades entrariam com os conteúdos, os monitores -que podem até ser alunos- e a formalização dos certificados. Seriam três módulos. Um, voltado para professores que atuam no Estado sem licenciatura. Hoje, são 60 mil. O segundo, a graduação. E o terceiro seria a pós-graduação. Começaríamos com a formação de professores. Se tudo correr bem, no ano que vem poderemos operar experimentalmente. Cerca de 30% das atividades serão presenciais. O projeto requer uns R$ 12 milhões ao ano. O valor não inclui o investimento na Cultura para que ela transmita em digital.

FOLHA – O governador concordou?

VOGT –
Totalmente propenso.