Criatividade dá a professor de química prêmio do Estado

O Estado de S. Paulo - Terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

ter, 10/02/2004 - 10h16 | Do Portal do Governo

Heitor Moura Erhard leva material reciclável para improvisar laboratório

MARCOS DE MOURA E SOUZA

Dar aulas de química numa escola onde não há laboratório de química é um desafio com que o professor Heitor Moura Erhard aprendeu rapidamente a lidar. Volta e meia, ele aparece na sala de aula da Escola Estadual Padre Anchieta, no Brás, zona leste, com caixas de papelão debaixo do braço, sais, reagentes, material reaproveitado do lixo, coisas compradas às vezes com seu dinheiro. ‘Tem de usar a criatividade para fazer os alunos aprenderem a pensar’, diz Erhard, de 43 anos.

Químico formado pela Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, ele foi um dos professores escolhidos pela Secretaria de Estado da Educação este ano para receber o bônus máximo como reconhecimento do trabalho em classe.

São R$ 6 mil (ainda sem os descontos do Imposto de Renda), que serão depositados hoje em sua conta-salário. Isso significa mais de quatro vezes os R$ 1.270 que Erhard leva para casa todo mês para dar 32 horas/aula por semana a 16 turmas – de dia e à noite.

A secretaria levou em conta o número de faltas dos professores, seu engajamento em projetos da escola, o número de alunos atendidos e se seu trabalho contribuiu para reduzir a evasão escolar. Criado em 2000, o bônus será pago a todos os mais de 170 mil professores e 18 mil gestores da rede.

Os valores variam de R$ 1.200 a R$ 6.000 (para os docentes) e até R$ 7.000 (para os gestores).

Colega de Erhard, a professora de matemática Laurinda da Conceição Miranda, de 48 anos, também recebe hoje o bônus máximo. Por iniciativa própria, Laurinda criou no ano passado um projeto de reforço na escola para tirar dúvidas dos alunos. Também participou de trabalhos conjuntos com professores de outras matérias e não teve uma falta sequer ao longo do ano.

No magistério desde 1979, ela tem um salário líquido de R$ 1.451. Se já pensou em mudar para uma área mais rentável? ‘Não. Estou na profissão por amor. Tenho compromisso com os alunos e me empenho para ajudá-los a ter sucesso.’

A professora ainda não sabe direito o que vai fazer com o bônus, mas deve aplicar na reforma de sua casa. Erhard pensa em fazer o mesmo. Casado e pai de três filhos – todos alunos da rede pública -, ele começou a dar aulas em 1983. Parou e voltou a lecionar algumas vezes. Há cerca de dez anos está na rede pública. Em 2000 foi efetivado. ‘O ensino público está melhorando, mas é preciso mais investimento.’ Enquanto isso não vem, ele continuará a dar as aulas com criatividade e improviso. Até agora deu certo.