Crianças pobres têm aula de circo dentro de quartel

DIÁRIO DE S.PAULO PM abre as portas na Zona Leste e, brincando, se aproxima da comunidade A pequena Stefani Ironita, de 10 anos, cabulou aula. mal sabia que naquela tarde, no […]

dom, 07/12/2008 - 18h51 | Do Portal do Governo

DIÁRIO DE S.PAULO

PM abre as portas na Zona Leste e, brincando, se aproxima da comunidade

A pequena Stefani Ironita, de 10 anos, cabulou aula. mal sabia que naquela tarde, no início de novembro, sua ação tinha ido além de uma simples arte de criança. Perambulando no bairro, ela encontrou a arte do picadeiro. Era perto de sua casa. Aliás, o circo foi montado dentro do quartel da Polícia Militar, em Sapopemba, Zona Leste. “Eu tinha medo dos policiais com as suas armas. Mas queria muito brincar na cama elástica e, então, entrei”, conta a menina. Ela jura que, desde então, não fugiu mais da escola. E até já decidiu o seu futuro: “Quero ser médica. Ajudar as pessoas”, revela.

O trapezista Harley Timóteo, de 44 anos, é o professor do circo instalado há pouco mais de um mês na sede do CPAM/9 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano) de São Mateus, na Avenida Sapopemba, 12.370. “É uma parceria da PM com a Prefeitura, que nos acionou para ministrar aulas de arte circense”, diz Harley.

O trapezista explica o repentino desejo de Stefani em querer ajudar o próximo e ser médica. “Aqui, a gente não ensina simplesmente as crianças a dar cambalhotas, piruetas e a fazer malabares. Elas acabam entendendo que um circo só existe se houver companheirismo, solidariedade, respeitoao próximo e confiança entre colegas de um mesmo grupo”, salienta.

O coronel Izaul Segala, que apoiou a implantação do projeto no quartel, acredita que essa é uma das ações possíveis para que os jovens da periferia tenham um horizonte um pouco mais claro. “Essas crianças não estão apenas aprendendo. Estão também sendo crianças de verdade e se divertindo. Assim, passam um bom tempo do dia sorrindo, ficam longe das más influências e formam melhor o caráter”, argumenta.

As aulas de circo no quartel começaram de forma tímida. Um cartaz na porta da área militar anunciava a atividade.

Os policiais também divulgaram a novidade nas escolas da região e nos estabelecimentos comerciais. “Mas sabe como é a periferia… No começo, todo mundo ficou meio desconfiado. Era tudo de graça, dentro de uma área com policiais. Mas, aos poucos, o boca-a-boca foi dando resultado, e agora temos mais de 200 inscritos”, comemora Harley. “Até mães que vieram trazer os filhos acabaram participando. É só alegria”, completa. Das 210 pessoas inscritas no projeto, 65% são do sexo feminino.

Polícia conquista a comunidade

O coronel Izaul Segala revela que o circo no quartel também tem o intuito de aproximar os moradores da Polícia Militar. “E mostrar para as crianças que a polícia é amiga da comunidade.” O garoto Marcos, de 8 anos, diz que não tem medo da polícia. Ao contrário, também quer ser policial quando crescer. “Ou bombeiro”, completa.

O menino viu, no circo, uma oportunidade de se divertir. “É pertinho de casa, e a cama elástica é muito legal. A gente sente que está voando.” Garoto pobre da periferia, Marcos também fala que não tem medo de bandido. “Não tenho medo de arma. Até já peguei uma na mão!”, conta, com orgulho, o pequeno estudante, que é filho de um segurança.

O professor Harley se emociona ao descrever seus alunos. “Aqui tem criança carente de tudo. Tem aquela que fica o tempo todo abraçando e beijando, querendo atenção. Tem um garoto que é calado, retraído, e um dia se abriu comigo. O pai bebia com freqüência e, naquela tarde, havia batido na mãe dele”, lembra Harley. “Disse ao menino que não se abatesse. Que aproveitasse conosco o tempo para ser criança”, relata. “Há ainda uma menina que gritava muito e não sabia de desculpar quando errava. Mas agora já aprendeu.”