Crianças ingerem iodo demais

Jornal da Tarde - Segunda-feira, 17 de setembrpo de 2007

seg, 17/09/2007 - 13h47 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Não bastasse a obesidade, os problemas cardíacos e o risco de diabete, a alimentação desequilibrada de crianças e adolescentes tem levado também a uma ingestão excessiva de iodo, o que, a médio e longo prazo, pode provocar o aumento de doenças relacionadas com a tireóide e a hipertensão. A conclusão aparece num levantamento feito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) que revelou que 73% dos estudantes do Estado apresentam concentrações da substância no organismo em índices acima do normal.

O iodo é uma substância essencial para o organismo e que obrigatoriamente é adicionada ao sal comercializado no País, em quantidades estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida, adotada há cerca de dez anos, serviu para sanar uma deficiência da substância na população brasileira. Assim como o excesso de iodo é prejudicial à saúde, sua falta pode levar a problemas, entre eles, de desenvolvimento mental.

‘Há cerca de dez anos começaram a aparecer na literatura internacional registros de aumento de doenças tireoidianas, relacionando-as com alta dosagem de iodo. No Brasil, ainda não tínhamos nenhum estudo do tipo, e foi nesse período que o sal iodado começou a ser vendido’, explica a autora da pesquisa, a endocrinologista Glaucia Cruzes Duarte. ‘Depois do estudo, percebemos que a preocupação era válida. Passamos da fase da falta para a do excesso’, diz.

Com autorização da Secretaria da Educação, foram selecionados 964 alunos do ensino fundamental entre 6 e 14 anos – 484 meninas e 480 meninos, numa amostragem representativa da faixa etária. Todos eles passaram por um exame da tireóide, tiveram sua coleta de urina analisada pelo Instituto Adolfo Lutz e levaram para os pesquisadores um pouco do sal consumido em suas casas – material que foi estudado nos laboratórios do Senai.

A principal fonte de iodo para a população é o sal de cozinha. A análise do sal mostrou que eles não tinham iodo em concentrações acima do permitido pela legislação. ‘Os fabricantes estão seguindo as normas, mas o Brasil já permite uma quantidade maior do que o resto do mundo. Provavelmente teremos de revisar isso em breve’, avalia Glaucia.

Quanto ao excesso nas crianças, a alimentação desequilibrada, com muitos produtos industrializados, como salgadinhos e bolachas, pode ser a principal explicação. ‘O salgadinho de saquinho tem muito sal e não traz benefício para a saúde das crianças’, explica a professora de endocrinologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Lígia Montali Assumpção.

A nutricionista responsável pelo ambulatório de nutrição clínica da Unifesp, Vera Regina Dishchekenian, alerta para a substituição de refeições preparadas com itens naturais por industrializados. ‘Estamos perdendo a cultura de cozinhar com cebola, alho e pitada de sal. Os ingredientes são substituídos por caldo pronto. Esses tipos de alimento são cheios de sal por causa dos conservantes’, diz.

Para um maior controle, além da educação nutricional, que elimine excesso de alimentos industrializados, é importante atenção maior aos componentes dos alimentos. ‘As pessoas ingerem sal em uma série de alimentos e nem imaginam, inclusive em doces. Uma fonte de iodo são os sucos prontos, que as crianças acabam bebendo em lugar de água’, completa.