Crianças com HIV têm aula no hospital

Jornal da Tarde - Terça-feira, 3 de agosto de 2004

ter, 03/08/2004 - 9h18 | Do Portal do Governo

Turma de 38 crianças teve aula ontem, no Hospital Emílio Ribas, que abrange ensino fundamental e médio. Quatro outros hospitais também oferecem aulas

RITA DE CÁSSIA LOIOLA

Uma turma de 38 crianças teve ontem um primeiro dia de aula fora do comum. Entre as paredes brancas e os leitos do Hospital Emílio Ribas, na zona oeste da capital, os alunos – a maioria com o vírus HIV – receberam três professoras que, com jogos de palavras cruzadas e caça-palavras tentavam prender sua atenção.

Durante o período de internação dos pacientes do hospital, as professoras marcarão presença diariamente nas enfermarias, ensinando conteúdos do ensino fundamental e médio. ‘Na vida dessas crianças, internação é uma coisa comum’, conta Glória Marques, médica infectologista do Hospital e idealizadora do ‘Saber Continuado’. Glória disse ainda que ‘por isso, pensamos em algo que trouxesse o colégio até elas, durante esse período em que estão afastadas do convívio com colegas e professores.’

Em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, o projeto pretende diminuir a defasagem escolar dos pacientes que passam muito tempo internados.

O conteúdo é passado de maneira especial: os alunos não precisam sair dos leitos para participar das aulas e têm um professor particular. O tempo de duração também é menor, cerca de uma hora.

Além disso, os conteúdos são passados de forma lúdica e leve. ‘Os pacientes não têm forças para uma aula regular enquanto estão internados. Por isso, não dá juntar todos e dar uma aula de Português, por exemplo’, comenta Walkyria Cattani, da diretoria regional de ensino Centro-Oeste do departamento da Secretaria Estadual de Educação. ‘Temos que unir os conteúdos e transmitir o conhecimento de maneira mais agradável’, diz.

O único com ensino médio

A diretoria já tem turmas em outros quatro hospitais da capital. No entanto, o Emílio Ribas será o único com ensino fundamental e médio – os outros têm aulas apenas para crianças com idade de 1ª a 4ª série.’Procuramos não somente passar os conteúdos, mas acompanhar as crianças dando continuidade à vida que elas tinham fora do hospital’, diz Mariza de Freitas, uma das três professoras responsáveis pelas classes.

Para as crianças, as novas professoras foram uma festa. ‘Ia hoje à escola da minha filha para ver papéis de transferência e decidir como passar os conteúdos para ela’, disse Omar Marinho, de 53 anos, pai de uma garota internada há 11 dias com tuberculose.

‘Mas nem precisei. As professoras não poderiam ter chegado em um melhor momento’, disse o pai da menina.

A jovem vai ficar no hospital por tempo indeterminado e nem sabe se vai poder voltar à escola ainda esse ano.

‘Mais importante que transmitir o conteúdo escolar é preencher o tempo ocioso das crianças. Às vezes, elas passam o dia todo sem nada para fazer ‘, afirmou.

A menina, com um sorriso franco, agradecia a presença das professoras e se aplicava às palavras cruzadas.