Criança obesa apresenta doença de adulto

Jornal da Tarde

ter, 22/09/2009 - 8h46 | Do Portal do Governo

Obesidade infantil pode antecipar em até 20% o surgimento de problemas cardiovasculares 

A obesidade em crianças e adolescentes pode antecipar em até 20 anos o surgimento de doenças cardiovasculares, como enfarte e AVC (derrame) – a principal causa de morte no mundo (exceto em alguns países africanos). A conclusão é de médicos do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP, baseados na revisão de pesquisas feitas sobre o tema. 

A grande vilã é a aterosclerose – que se caracteriza pelo envelhecimento precoce das artérias. O processo resulta na perda da elasticidade e diminuição da espessura das artérias, o que provoca hipertensão. Em estágios avançados, pode levar à obstrução das vias de passagem do sangue, e, em consequência, ao enfarte ou AVC. 

“Comparamos os índices em adultos saudáveis e com adolescentes e crianças acima do peso”, diz o cardiologista Wilson Salgado, médico-assistente da Unidade Clinica de Lípides do Incor. “O jovem obeso está com os mesmos índices de uma pessoa até 20 anos mais velha.” Ou seja, um adolescente de 15 anos acima do peso tem as artérias tão comprometidas como a de um homem de 35. 

O processo ocorre pela falta de exercícios físicos e uma dieta rica em gorduras e pobre em fibras e ácidos graxos (como o Ômega 3), que reduzem o colesterol bom. 

O diretor da Unidade Clínica de Dislipidemias do Incor, Raul Dias dos Santos, aponta outro problema causado pela obesidade: a síndrome metabólica, que resulta no aumento da pressão sanguínea, dos níveis de triglicérides e glicose no sangue. “A síndrome é uma bomba relógio que pode causar precocemente o aparecimento de diabetes e doenças do coração e dos vasos (sanguíneos).” 

Médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, Marcia de Castro Sebastião diz que os índices de obesidade em crianças e adolescentes atingem hoje cerca de 30%. Ela culpa os maus hábitos alimentares aliados à falta de exercício físico. “A maioria das crianças não toma café da manhã, vai direto para a escola e come frituras e bebe refrigerante.” Ricos em gorduras, esses alimentos, assim como os doces, favorecem o ganho de peso. 

Vera Lúcia Barbosa, presidente do Instituto Movere, culpa os pais pela má alimentação. “Os pais não têm tempo para preparar um jantar adequado, daí apelam ao fast-food”, diz. “O que é mais fácil: preparar um prato com carne e salada ou um Miojo?” 

João, 11 anos, é uma das crianças que está em tratamento no Movere. Segundo a mãe dele, a advogada Andréa, ele perdeu oito dos 81 quilos que tinha quando chegou lá há três meses (ele mede 1,53m). “Ele não queria saber de fruta nem verdura, era só bolacha e chocolate.” Exercícios físicos? “Ele só queria saber de tevê e game.” Hoje, ele incluiu alimentos saudáveis na dieta e não foge das aulas de educação física.