Coração artificial ajuda órgão defeituoso

Folha de S. Paulo - São Paulo - Segunda-feira, 15 de novembro de 2004

seg, 15/11/2004 - 20h09 | Do Portal do Governo

Sistema eletromecânico criado por pesquisadores do Instituto Dante Pazzanese já está sendo testado em animais

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de pesquisadores em São Paulo está desenvolvendo um coração artificial auxiliar que, após implantado, atuaria junto com o natural em pacientes que estão na fila de transplante.

O projeto, desenvolvido por uma equipe do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, órgão da Secretaria de Estado da Saúde, é inovador justamente pelo aspecto de ser um segundo coração, com função auxiliar, em vez de um substituto. ‘Nessa modalidade ele é pioneiro’, afirma Jaison Fonseca, engenheiro eletrônico envolvido no projeto, que tem a coordenação de Aron Andrade e apoio da Fundação Adib Jatene.

Trata-se do primeiro coração artificial com dois ventrículos desenvolvido no Brasil. O mais comum, nesses sistemas implantados em pacientes com condição irreversível, é ter só um dos lados do coração substituído ou auxiliado por uma máquina. São os chamados dispositivos de assistência ventricular.

No caso do CAA (Coração Artificial Auxiliar), como o chamam seus criadores, o coração inteiro está representado.

Fonseca também destaca a vantagem de ter sido usado um sistema eletromecânico. ‘Há muitos dispositivos desse tipo que são pneumáticos, ou seja, precisam de um sistema de bombeamento de ar para funcionar’, diz. ‘Para eles, é preciso manter uma cânula saindo de dentro do paciente, para bombear o ar’, continua.

Já no sistema desenvolvido no Dante Pazzanese, o dispositivo funciona com um motor que promove o bombeamento, alimentado por eletricidade fornecida por uma bateria fora do paciente.

A energia é irradiada para o coração via eletromagnetismo, sem a necessidade de fios que liguem o coração à bateria. ‘Não queríamos ‘plugar’ o paciente na tomada’, diz Fonseca. ‘Ele só precisa usar um cinturão com a bateria e pode se movimentar livremente. Com um sistema pneumático, ele ficaria preso a uma máquina.’

O sistema tem sido desenvolvido desde meados de 1998. E a durabilidade do aparelho parece boa. ‘Ainda não fizemos uma estimativa precisa de vida útil, mas posso dizer o seguinte: desde que começamos, estamos usando o mesmo motor, e ele nunca deu problema’, afirma o pesquisador.

Os pesquisadores já começaram os testes em animais -bezerros que tiveram sua sobrevida aumentada em até 12 dias com o uso do dispositivo. ‘Estamos aperfeiçoando seu funcionamento para finalmente iniciarmos os testes em humanos’, diz. Isso pode vir a acontecer já no ano que vem.

O aparelho serve apenas como uma ‘ponte para transplante’, ou seja, não deve ser incorporado de maneira definitiva aos pacientes. A idéia é desenvolver uma alternativa nacional aos corações artificiais importados, a fim de baratear o custo. ‘Estamos pensando em fazer uma parceria com o SUS’, diz Fonseca.