Convênio vai agilizar transplante de órgãos

Correio Popular - Campinas - Terça-feira, 28 de setembro de 2004

ter, 28/09/2004 - 10h04 | Do Portal do Governo

Parceria firmada ontem entre Unicamp e Polícia Civil vai disponibilizar helicópteros para o transporte e diminuir tempo entre retirada e implante

Delma Medeiros, da Agência Anhangüera

No Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, uma parceria entre a Organização de Procura de Órgãos (OPO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Serviço Aerotático da Polícia Civil do Estado de São Paulo promete agilizar o transporte das equipes de captação e retirada de órgãos e garantir mais qualidade para os transplantes. O convênio foi formalizado ontem no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp.

Segundo o coordenador da OPO, Adriano Fregonese, graças às campanhas de estímulo à doação de órgão, o número de doadores tem crescido na região. De janeiro a setembro do ano passado, a OPO contabilizou 30 doadores, número que dobrou para 60 no mesmo período deste ano. “Mesmo assim, o volume ainda é insuficiente e há muito para ser feito”, afirma.

O HC da Unicamp faz, em média, 300 transplantes por ano, incluindo rins, medula, córneas, fígado e coração. Mas tem capacidade para até dobrar esse número. “Só depende de termos doadores”, diz o superintendende do HC, Ivan Toro. “Essa parceria é importante por ampliar o acesso a doadores de diferentes regiões do Estado”, reforça o reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Britto Cruz. O diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-2), José Laerte Goffi Macedo, representando o delegado geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, lembra que o suporte para o transporte de órgão era feito extra-oficialmente. “Com a formalização, os três helicópteros da Polícia Civil ficam à disposição para atender a universidade sempre que acionados.”

Espera

Fregonese informa que, no Brasil, em torno de 60 mil pessoas esperam por um órgão na fila da Central Nacional de Transplantes. Só no Estado de São Paulo, são aproximadamente 20 mil pacientes, dos quais cerca de 10 mil à espera de um rim, 4 mil de um fígado, 239 de um rim/pâncreas, 71 de um coração, 20 de um pulmão e 5,3 mil de córneas.

Segundo o médico, entre os pacientes que esperam por um órgão vital, como coração e fígado, de 30% a 40% morrem na fila antes de conseguir o transplante. Nos pacientes renais o índice cai para 20%, graças ao suporte da máquina de hemodiálise, que substitui o órgão doente.

Fregonese afir-ma que a agilização do transporte reduz os índices de rejeição. Ele cita que o coração, por exemplo, resiste apenas quatro horas após ser retirado do corpo. No caso de fígado e rim, o tempo passa para 12 e 36 horas, respectivamente. “O helicóptero ou avião diminuem o tempo de transporte, o que otimiza o transplante. Quanto menor o período de isquemia (órgão fora do corpo), maior a chance do transplante dar certo”, ressalta.

A presidente da Associação dos Renais Crônicos de Campinas (ARCC), Débora Pereira Domingues, 42 anos, sentiu na pele o problema. Vítima de insuficiência renal crônica, ela ficou mais de sete anos fazendo hemodiálise à espera de um rim. “Fiz o transplante em janeiro deste ano e hoje tenho uma nova vida”, afirma, lembrando que a espera é muito angustiante. “À medida que o tempo passa surgem novas complicações e a sensação de que não vai dar tempo”, completa.

Estado de São Paulo supera marca histórica

O Estado de São Paulo tem muito a comemorar no Dia Nacional do Doador de Órgãos. Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde mostra que, de janeiro a agosto deste ano, foram feitos 935 transplantes de órgãos no Estado, 43% a mais que os 652 do mesmo período de 2003. Mantendo-se essa tendência, o Estado deverá fechar o ano com cerca de 1,4 mil transplantes realizados, uma média de quase quatro transplantes por dia.

O primeiro semestre deste ano é considerado o melhor da história na área. “Os transplantes no Estado estão crescendo mês a mês, mas a população deve ter consciência de que é de extrema importância que os números cresçam ainda mais, que há muito ainda a ser feito. Esse gesto pode ser o último recurso de quem luta pela vida”, afirma o coordenador da Central Estadual de Transplantes, Luiz Augusto Pereira.

Família

Pereira lembra que é fundamental que a família esteja de acordo com a doação de órgãos do parente falecido, comunique sua decisão ao médico do hospital, que encaminhará o pedido à OPO. Em Campinas, os números também são alentadores.

A OPO, da Unicamp, registrou 60 doadores de janeiro a setembro deste ano, o dobro das doações do mesmo período do ano passado. No total, foram realizados, 298 transplantes no Hospital das Clínicas da Unicamp em 2003. Este ano, até agosto, já haviam sido feitos 220 procedimentos. (DM/AAN)