Consórcios de peso vão brigar pelo Rodoanel

Valor Econômico - Terça-feira, 29 de janeiro de 2008

ter, 29/01/2008 - 12h11 | Do Portal do Governo

Valor Econômico

Os principais concorrentes na concessão do trecho Oeste do Rodoanel não devem ir sozinhos para a disputa. De olho num dos principais corredores viários de São Paulo, diversos consórcios buscam parcerias com grupos estrangeiros. O objetivo é aliar experiência em administração de rodovias e muito dinheiro – características fundamentais para quem quiser vencer o leilão, que será realizado em março pelo governo paulista. As parcerias deverão ser mantidas na disputa para as rodovias estaduais, cuja licitação está prevista para ocorrer em julho deste ano.

Segundo um consultor que trabalha para um grupo paulista, a disputa prevista já é visto como para “cachorro grande”, uma vez que grupos de pequeno porte dificilmente poderão cumprir as exigências do edital. Além de oferecer o menor valor pela tarifa de pedágio (cujo teto é de R$ 3,00), o grupo vencedor terá de desembolsar a título de outorga de R$ 2 bilhões e arcar com um pacote de obras de R$ 800 milhões em 30 anos, prazo de vigência da concessão. Hoje, o tráfego diário do Rodoanel é de 145 mil veículos (sendo 21% de caminhões) e os concorrentes prevêem crescimento pelo menos igual ao do PIB no volume de trânsito nos próximos anos. “Mesmo quem tem experiência no ramo está em busca de aliados”, afirmou.

Algumas parcerias serão formalizadas em breve. A espanhola OHL, grande vencedora das licitações das rodovias federais no ano passado, confirmou a parceria com um grupo americano, mas não quis revelar o nome. Fontes ouvidas pelo Valor apontam o Goldman Sachs como sócio. Há especulações ainda sobre uma parceira com o ICA.

Curiosamente, as duas empresas formaram um consórcio que venceu diversas licitações de um programa de privatização de rodovias no México. De acordo com as mesmas fontes, a CCR também deve ter como aliado um grupo espanhol no leilão. A TPI – Triunfo Participações e Investimentos é outra que anunciará em breve seu aliado.

Os próprios concorrentes apostam em disputa acirrada entre CCR e OHL. O primeiro grupo, que tem Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e a portuguesa Brisa como acionistas, “tem obrigação de ganhar”, na avaliação de analistas, pois o trecho Oeste do Rodoanel cruza rodovias que estão sob sua administração – Anhangüera, Bandeirantes, Castello Branco e Raposo Tavares. Já a OHL venceu o leilão da rodovia federal Régis Bittencourt, que também é servida pelo Rodoanel. “Poderemos ver grandes deságios na disputa pelo trecho”, disse.

O diretor de relações com mercado e de finanças da CCR, Arthur Piotto, já admitiu que a empresa deverá ser “menos conservadora” nos processos em São Paulo. “Mas não queremos comprometer o desempenho da empresa nem prejudicar acionistas”.

Donas de confortável situação financeira e com experiência no ramo, Ecorodovias, BR-Vias, Cibe (Bertin -Equipav) e Triunfo são os consórcios que completam o pelotão de elite na corrida pelo Rodoanel e também pelas demais rodovias paulistas – D.Pedro I, Ayrton Senna/Carvalho Pinto, Raposo Tavares e trechos Leste e Oeste da Marechal Rondon.

A Odebrecht está estudando se fará propostas para os lotes. Procurada, não quis se manifestar. A Ecorodovias diz que ainda é “prematuro” dizer se participará dos leilões. Mas especialistas dizem que o trecho Oeste pode trazer um sinergia importante à empresa no futuro. O governo de São Paulo já realiza obras do tramo Sul do Rodoanel, que corta o sistema Anchieta-Imigrantes, que é administrado pela Ecorodovias. O dinheiro da outorga do trecho Oeste será usado para acelerar as obras ramo Sul.

Por ter um processo de licitação separado do Trecho Oeste, o leilão das rodovias paulistas também deve gerar um forte interesse dos consórcios. Em muitos trechos essas rodovias são paralelas a estradas já sob administração dos concorrentes. É o caso da Cibe, grupo dono de cinco concessionárias nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Uma de suas empresas, a Colinas, é responsável pelo gerenciamento de um dos trechos da rodovia Castello Branco, no interior de São Paulo, num trecho muito próximo ao da rodovia Marechal Rondon. Já a CCR é proprietária da Nova Dutra , administradora da rodovia Presidente Dutra – ao lado do sistema Ayrton Senna- Carvalho Pinto.

“Vamos brigar em todos os trechos, inclusive o Rodoanel, mas é inegável que as rodovias trarão sinergia ao nosso grupo”, afirmou ao Valor o diretor da Cibe, Hamilton Amadeo. A empresa montou boa parte de seu portfólio de concessionárias a partir de compras efetuadas nos últimos anos, como a Colinas e a Sulvias, que administra rodovias no Rio Grande do Sul. “Agora, nossa aposta será em investimentos ‘greenfield'”, afirma. Além de São Paulo, os processos de licitação do governo de Minas Gerais e o próximo lote de licitações federais também estão na mira da concessionária.

Amadeo afirmou que a Cibe não pretende formar um consórcio para brigar pelos lotes, mas admitiu que a empresa já foi sondada por diversas empresas estrangeiras oferecendo sociedade. Hoje, a empresa administra mais de 1,6 mil quilômetros de rodovias e seu faturamento no segmento deverá chegar a R$ 1 bilhão em 2010. Além de rodovias, a Cibe também possui negócios nas áreas de energia elétrica e saneamento básico.