Conheça a prisão que virou museu

A Tribuna - Santos - Quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

qua, 12/01/2005 - 9h19 | Do Portal do Governo

Da Reportagem

José Luiz Araújo

Medo, sofrimento, dor, confinamento e morte deram lugar a luzes, cores, liberdade de ir e vir e vida. As antigas e temidas celas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, foram transformadas em minigalerias de arte, e são uma das muitas atrações da Estação Pinacoteca, museu administrado pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Das seis celas (verdadeiros cubículos, nos quais eram amontoados os inimigos da Ditadura), quatro foram reformadas, pintadas e receberam iluminação especial.

A única lembrança em relação ao triste período da Ditadura Militar são as pesadas portas originais, em madeira e com vigias de ferro. Para quem conhece a história, é uma sensação estranha estar ali. Para quem não tem muita informação sobre o que aconteceu, é praticamente impossível imaginar que o belo edifício, todo de tijolinhos aparentes, foi utilizado para a selvagem finalidade.

Nas celas há quadros, gravuras e algumas fotografias de pessoas famosas que ali ficaram detidas (ainda que temporariamente) ou foram interrogadas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros. No caso desses artistas, antes da deportação.

O prédio histórico, agora Estação Pinacoteca, foi inaugurado em 1914. Construído a partir de um projeto de Ramos de Azevedo, tem 7.550 m2 de área, divididos em quatro pavimentos. Serviu de armazém para a Estrada de Ferro Sorocabana, hoje Estação da Luz, no entanto, a partir de 1942 passou a abrigar a sede do Dops. Mais tarde se tornaria centro de repressão e tortura.

No final da Ditadura, os arquivos do Dops foram transferidos para a Polícia Federal e o prédio passou a ser ocupado pela Delegacia de Polícia Civil de Defesa do Consumidor.

A restauração aconteceu em 2002. O imóvel foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e passou a abrigar o interessante museu.

Como o antigo prédio pertencia à Estrada de Ferro Sorocabana, quem o visita não deve deixar de dar uma passadinha na Estação da Luz, para admirar sua beleza arquitetônica. Fica na mesma rua, a 100 metros da Estação Pinacoteca.

De Santos, quem vai de ônibus pode descer no Jabaquara, pegar o Metrô até a Estação Luz, bem em frente. Há inclusive uma ligação direta que vai do Metrô à Estação.

Exposições valem um passeio a São Paulo

Da Reportagem

Depois de visitar as celas do antigo DOPS, na Estação Pinacoteca, o deleite fica por conta das exposições temporárias, entre elas Mestres do Modernismo, coletiva com 50 obras fundamentais desse período das artes nacionais. Elas nos levam à charmosa década de 20.

Em cartaz até junho, nela podem ser apreciadas telas como Antropofagia, São Paulo e Carnaval em Madureira, de Tarsila do Amaral; Mulheres na Janela e Mulher e Paisagem, de Di Cavalcanti; Duas Crianças e Bananal, de Lasar Segall; Adalgisa e o Artista, de Ismael Nery; e Tropical, de Anita Malfatti.

Mas a que mais desperta a curiosidade, no momento, é a inusitada exposição Manuscritos do Mar Morto, com fragmentos originais dos pergaminhos e objetos do mesmo período, datados de aproximadamente 2.000 anos, pertencentes à coleção do Israel Antiquities Authority.

Trata-se de um tesouro da humanidade. Os arqueólogos encontraram os pergaminhos em 1947, em cavernas do Deserto da Judéia. Segundo pesquisas, eles pertencem aos mais remotos textos sagrados do juadaísmo.

De acordo com os organizadores da exposição, foram escritos em hebraico, aramaico e grego. São três fragmentos originais e quatro cópias, tudo vindo de Israel. Contêm narrativas do Êxodo, Deuteronômio, Livro de Isaías, Gênesis e Salmos.

Também relatam o modo de vida do povo essênio, ao qual provavelmente pertencem os autores dos textos. A exposição conta, ainda, com 77 peças, como potes e moedas encontradas próximo ao Mar Morto. Pode ser visitada até o dia 26 de fevereiro.

Serviço — Largo General Osório, 66, Bairro da Luz, telefone 011-3742-0077. Aberta de terça a sexta, das 11 às 17 horas; sábado e domingo, das 10 às 17 horas. Ingressos a R$ 4,00 e R$ 8,00. Sábado a entrada é franca.