Condephaat tomba o Conjunto Nacional

O Estado de S. Paulo - Sexta-feira, 15 de abril de 2005

sex, 15/04/2005 - 9h58 | Do Portal do Governo

Edifício de uso misto idealizado nos anos 50, por onde passam diariamente 30 mil pessoas, é visto hoje como modelo para as grandes cidades

Marisa Folgato

Uma lâmina horizontal e outra vertical marcariam para sempre a paisagem da Avenida Paulista na esquina com a Rua Augusta. Um projeto que viveu o glamour nos anos 60, foi consumido pelo fogo nos 70 e sofreu uma decadência sem fim até chegar ao fundo do poço no início da década de 80, para então renascer. É para garantir a preservação dessa memória tão paulistana que está sendo concluído, agora, pelo Condephaat, o tombamento do Conjunto Nacional. A secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin, assinou o documento anteontem à noite e a resolução vai ser publicada na edição de amanhã do Diário Oficial.

‘É extremamente pertinente o tombamento, não só pelas razões arquitetônicas, mas também pelo fator cultural, acrescentando mais um ponto importante à Paulista’, diz Cláudia. Mas ela tem mais a comemorar: o conjunto ainda está na sua memória afetiva. ‘Ia muito com minha avó tomar chá no Fasano, nos anos 60.’ O convite da avó materna, Lidia Fenyvesi, era sempre bem-vindo. ‘Não pelo chá, mas por causa daquele monte de coisas gostosas que vinham junto.’

O Fasano ocupava o terraço. Muitos famosos passaram por ali, como Nat King Cole, Marlene Dietrich, Ginger Rogers e até Fidel Castro.

O projeto do arquiteto David Libeskind (Leia abaixo) foi encomendado pelo empresário José Tjurs. Ele queria reunir no mesmo endereço hotel, centro comercial e moradia.

Mas o uso acabou mudando. Na lâmina horizontal, há hoje 62 lojas. Na vertical, são três prédios de 25 andares cada um, dois de escritórios e um residencial, com 52 apartamentos de 280 metros quadrados. O hotel não vingou.

REFERÊNCIA

‘O Conjunto Nacional é um marco arquitetônico na cidade e na verticalização da Paulista’, diz o presidente do Condephaat, José Roberto Melhem. Mesmo quase 50 anos após a inauguração, ele ainda serve de modelo. É justamente a proposta de reunir comércio, moradia e serviços num só lugar, com um diálogo com a rua, feito por meio de galerias de corredores muito largos, calçadas e jardins, que inspira os planejadores.

Esse mix foi defendido pelo ex-secretário do Planejamento Jorge Wilheim no Plano Diretor da gestão petista. ‘Numa cidade com tantos problemas de mobilidade, atividades e moradia devem estar próximas’, diz ele, que aprovou o tombamento. ‘Todos devemos a Libeskind esse excelente projeto.’

Por sorte, a revitalização do prédio começou bem antes, em 1984, quando Vilma Peramezza tornou-se síndica. ‘Senão hoje o condomínio não estaria tombado, mas derrubado’, diz Vilma. ‘Queremos cumprir o plano original do arquiteto e instalar brises (quebra-sóis) como os da fachada da Paulista na face da Alameda Santos’, conta Vilma, que fez um plano diretor levando em conta o tombamento, cujo processo iniciou-se em 2004.

‘Este ano vamos recuperar o piso de mosaico português.’ Outro plano é encontrar parceria para reabrir o Cine Astor, como teatro ou cinema. O tombamento, porém, a preocupa. ‘Não podemos fazer do Conjunto Nacional um museu.’

O tombamento, que exige aval do Condephaat para obras, cobre o entorno. ‘Mas mudanças dentro das unidades são livres’, disse Melhem.