Concluído seqüenciamento do genoma do café arábica

Valor Econômico - Terça-feira, 20 de abril de 2004

ter, 20/04/2004 - 9h46 | Do Portal do Governo

Mônica Scaramuzzo, de São Paulo

Foi concluído o programa brasileiro de seqüenciamento do genoma do café arábica, projeto do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café) executado em parceria por Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Nessa primeira etapa do projeto, que durou dois anos, os pesquisadores criaram o maior banco de dados para café do mundo, com 200 mil seqüências de DNA, afirmam os coordenadores do projeto, Alan Carvalho Andrade, da Embrapa, e Carlos Colombo, da Fapesp. Nos Estados Unidos e na França, há bancos com até 40 mil seqüências de DNA.

‘Temos agora uma ferramenta poderosa que vai nos ajudar na identificação de genes que podem combater pragas nas plantas e variedades mais resistentes à seca’, diz Andrade, coordenador do projeto pela Embrapa.

O estudo também permitirá o desenvolvimento de novas variedades e melhorar a qualidade da bebida. O orçamento total do projeto é de R$ 6 milhões, dos quais R$ 2 milhões foram gastos diretos na pesquisa, segundo Andrade. O restante refere-se à infra-estrutura do programa.

De acordo com Colombo, pesquisador do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e coordenador do projeto pela Fapesp, com a criação desse banco de dados será possível identificar a função dos genes. Colombo explica que esse estudo faz parte da segunda parte do programa do genoma do café. Vale lembrar que a Fapesp também esteve à frente dos projetos da Xylella fastidiosa, da cana-de-açúcar, e da Xanthomonas, do eucalipto.

Do banco total seqüenciado, foram identificados entre 30 mil a 35 mil genes. ‘Agora temos como estudar a função de cada gene para saber qual a importância deles no processo produtivo, o que interfere na qualidade da bebida e na floração da planta, por exemplo’, afirma o coordenador da Fapesp. Segundo ele, os pesquisadores também vão comparar, nesta segunda fase, o banco de dados brasileiro com o já existente no mercado internacional.

A notícia foi bem recebida pelo setor cafeeiro. Para Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a conclusão do projeto do genoma coloca o Brasil na posição de liderança tecnológica para o grão. ‘Esse programa acelera a tradição de melhoria genética desenvolvida pelo IAC’.

Os estudos em biotecnologia na cadeia do café também envolvem os grãos de café transgênico. Essa pesquisa é encabeçada pelo coordenador do laboratório de biotecnologia vegetal do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Luiz Gonzaga Vieira, que é o supervisor geral do projeto do genoma da café. O Iapar trabalha com grãos resistentes à maior aplicação de herbicidas e também no desenvolvimento de grãos que inibem a proliferação do etileno, que acelera o processo de maturação do grão.