Computador é mistério para 60% da população da periferia de SP

Diário de S. Paulo - 8/5/2002

qua, 08/05/2002 - 11h00 | Do Portal do Governo

Pesquisa divulgada pela Secretaria Estadual de Governo revela que 93% dos integrantes das classes mais baixas gostariam de aprender informática

Sessenta por cento da população da periferia da cidade de São Paulo não sabe como usar um computador. Pesquisa encomendada pela Secretaria Estadual de Governo para levantar as necessidades de informatização destes moradores revela que 75% dos integrantes de classes D e E, com renda média familiar de R$ 540, nunca usaram computador. Além disso, 89% nunca acessaram a Internet, mas 90% dos entrevistados sabem o que ela é. Os dados mostram ainda que 93% gostariam de aprender a utilizar a rede mundial de computadores e 85% estariam dispostos a pagar para ter acesso.

A pesquisa foi feita na primeira quinzena de fevereiro, com 300 pessoas moradoras em 29 distritos da periferia da Capital. O objetivo da secretaria era conhecer as regiões mais carentes para ampliar o Programa Acessa SP, que visa combater a exclusão digital com a instalação de infocentros comunitários.

Segundo a mostra, 12% das pessoas conheceram a Internet no trabalho. É o caso, por exemplo, do assistente administrativo Aldemir Serbes de Oliveira, de 26 anos, que hoje, desempregado, freqüenta infocentros para divulgar seu currículo e tentar se recolocar no mercado. “Pela Internet é mais rápido e econômico”, diz.

A pesquisa revela ainda que 10% das pessoas acessaram a Internet pela primeira vez na casa de amigos ou vizinhos. “Está acontecendo a mesma coisa que houve quando lançaram a televisão. As pessoas se reuniam na casa de um vizinho para assistir, porque era muito caro ter um aparelho de TV. Espero que, em pouco tempo, o computador também seja acessível à maioria das pessoas”, compara o secretário de Governo, Dalmo Nogueira Filho.

Dos pesquisados, 66% têm entre 20 e 44 anos; 18%, entre 45 e 60 anos; e 16%, entre 15 e 19 anos. As mulheres formam 52% do universo da pesquisa. A maioria mora no extremo Leste da cidade (43%), 40% está na Zona Sul, 14% na região Norte e 3% na Oeste. Apenas 11% vivem em favelas.

Para a escolha dos bairros, os moradores foram divididos em cinco grupos: os que têm renda média familiar até R$ 938 (1), até R$ 1.231 (2), até R$ 1.609 (3), até R$ 2.445 (4) e até R$ 3.819 (5). A maioria dos entrevistados está no grupo 1, sendo 40% na Zona Sul, 36% na Leste e 23% na Norte.

Em 48% das casas moram entre três e quatro pessoas; em 37%, entre cinco e sete; em 5%, acima de oito; e em 10% existem dois moradores. Em cada domicílio, 1,7% das pessoas trabalha. A amostra revela ainda que dos 37% de entrevistados que trabalham, 69% não têm carteira assinada.

A copeira desempregada Cecília Carmo do Nascimento, de 43 anos, está entre os 5% que dividem a casa com mais de oito pessoas. Com ela moram três adultos e nove crianças. “Eu soube pelos meus sobrinhos que a Internet facilita a vida da gente e vim conhecer. Acho que vai ser bom para procurar emprego e encontrar receitas de pratos diferentes”, diz ela, que ontem foi pela primeira vez ao Infocentro da Casa de Cultura e Educação São Luís, no Jardim São Luís, na Zona Sul.

Cristina Christiano