Complexo Campinas-Hortolândia terá raio X

Correio Popular - Campinas - Segunda-feira, 22 de novembro de 2004

seg, 22/11/2004 - 9h09 | Do Portal do Governo

Todas as unidades prisionais terão aparelho que vai reforçar a revista de visitantes na tentativa de impedir a entrada de celulares

Bargas Filho
Da Agência Anhangüera

Cada uma das seis unidades do Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia terá, a partir de janeiro de 2005, um aparelho de raio X. O anúncio foi feito por João Batista Paschoal, diretor geral da Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Central do Estado. Atualmente, esses presídios abrigam 6.363 detentos. O equipamento servirá para tentar conter a entrada de celulares, drogas e armas dentro de alimentos, produtos de higiene pessoal, sapatos, bolsas e peças de roubas. Os aparelhos são semelhantes aos usados em aeroportos para revista da bagagem dos passageiros.

A aquisição desse equipamento foi anunciada pela Secretaria da Administração Penitenciária. Serão comprados, em dezembro, por meio de pregão, 30 aparelhos de raio X, numa primeira etapa, a custo estimado de R$ 90 mil a R$ 100 mil cada um. A empresa vencedora terá prazo de 30 dias para instalação do equipamento. Em todo o Estado, há 128 unidades prisionais. O equipamento vai substituir os bloqueadores de celulares – existem apenas oito no Estado.

“Dentro do programa da Secretaria, todas as unidades receberão o aparelho de raio X para a revista de pertences dos sentenciados. Talvez em janeiro comece a instalação desses aparelhos”, disse Paschoal. Nenhuma unidade do Complexo Campinas-Hortolândia possui bloqueador de celular, apenas os detectores de metal. “O raio X será mais um recurso para impedir que cheguem aos sentenciados os celulares, a droga e as armas”, explica o diretor geral da Coordenadoria.

Atualmente, para revistar os alimentos é preciso que os agentes de segurança penitenciária utilizem talheres para remexer a comida. Com o aparelho, os pratos ou vasilhames serão colocados numa esteira e será possível perceber se existe algum objeto dentro. O mesmo será feito com os calçados, as bolsas e roupas dos visitantes. De acordo com Paschoal, os pertences dos funcionários também serão vistoriados no aparelho.

“Vamos checar tudo”, garantiu.

“Alguns materiais ilícitos entram nas unidades por intermédio das visitas. Vamos tentar fechar mais uma válvula. Assim teremos como saber qual a outra forma de entrada dos celulares e do tóxico”, comentou Paschoal. O diretor geral da Coordenadoria explicou que os funcionários e diretores das unidades são investigados. “Mensalmente, cada diretor de segurança faz um relatório com o resultado da investigação de determinado funcionário que seja considerado suspeito. A punição é rigorosa”.

Paschoal lembrou que no mês passado um funcionário da Penitenciária de Itapetininga foi autuado em flagrante na delegacia da Polícia Civil por corrupção ativa – ele estava levando para um detento um aparelho de celular. “Esse funcionário está preso”, informou o diretor da Coordenadoria, responsável por 22 unidades prisionais.

“Atualmente a revista é feita manualmente. Todo material e alimento é revistado e revirado. O celular, o tóxico e a arma chega dentro de sabonetes, de escovas de limpeza, dentro de alimentos como bolo, macarrão e pães”, contou Paschoal.

Revistas nos presídios são intensificadas

Revistas periódicas e uma geral todo mês. Essa medida, conhecida como “Operação Boi na Linha” por impedir que celulares fiquem muito tempo com detentos, fez diminuir o número desse tipo de aparelho dentro das seis unidades do Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia. A constatação é do diretor geral da Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Central do Estado, João Batista Paschoal. “Em 2003, a média era de 16 a 20 celulares por mês encontrados em cada unidade. Neste ano, apreendemos entre oito celulares mensalmente nas unidades”, informou. Paschoal atribui a redução da entrada de aparelhos à repressão. “Estamos fazendo revistas nas celas quase todos os dias.”

“É um trabalho realizado pelos agentes de segurança penitenciária supervisionado pelos diretores. Conseguimos diminuir sensivelmente a entrada de aparelhos de celulares”, comentou Paschoal. As revistas periódicas podem acontecer a qualquer hora do dia, inclusive nos finais de semana quando termina o horário de visita. “São vistorias feitas a partir de denúncias e suspeitas dos funcionários responsáveis pela segurança da unidade. E todo mês é feita uma revista geral em todas as celas.”

Entre os dias 13 e 15 deste mês, durante o final de semana prolongado pelo feriado do Dia da Proclamação da República, foram apreendidos nove celulares com carregadores nas Penitenciárias 1 e 3. Os aparelhos foram encaminhados ao 1º Distrito de Policial de Hortolândia. A Polícia Civil encaminha os celulares para perícia na Polícia Técnico-Científica.

De acordo com Paschoal, a única unidade que não houve apreensão de celulares foi o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Hortolândia onde funciona o sistema RDE (Regime Disciplinar Especial), a chamada “tranca dura” – os presos não têm contato físico com visitas e não possuem acesso a rádio e televisão.

O promotor José Herbert Teixeira Mendes, representante do Ministério Público em Campinas, disse que as revistas constantes estão surtindo efeito. “Percebemos que o número de aparelhos dentro das unidades é menor. Esse trabalho tem surtido um efeito positivo”, comentou. Teixeira Mendes investiga a ação de facções criminosas dentro do Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia.

Com celulares os detentos organizam fugas, comandam o tráfico de drogas, elaboram planos de roubos e dão ordens para as quadrilhas que estão nas ruas.

Ligações auxiliam fugas

Sete de novembro de 2003, 15h. Uma bomba explode e abre um buraco na parede de uma das celas da Penitenciária 2, do Complexo Campinas-Hortolândia. Em seguida, um táxi modelo Gol de um empresa da capital paulista pára numa rua de terra nos fundos da unidade prisional. Quatro detentos saem do presídio. Agentes de escolta e vigilância penitenciária atiram. Um detento morre baleado, outro fica ferido e dois são presos.

Um celular achado dentro da cela tinha registro de ligações feitas e recebidas para outro celular momentos antes da ação. Ficou concluído, assim, que todo o esquema foi planejado por conversas telefônicas.

Duas da madrugada de dezembro de 2003. Tiros são disparados contra a muralha da P-2. O tiroteio abre caminho para a fuga de 10 presos, que escalam alambrados. Durante a fuga em veículos que os aguardavam no lado de fora uma tragédia: o carro que transportava alguns foragidos bate contra um Voyage onde estavam quatro rapazes, moradores em Monte Mor, que voltavam de uma festa para casa. Dois deles morrem. Um detento também acaba morto no acidente. Outros ficam feridos. Agentes acham celulares nas celas e com os presos que foram recapturados. Registros de ligações recentes comprovam, também, que todo o esquema foi combinado por telefone celular.

Essas ações comprovam que o aparelho celular é um instrumento perigoso em poder dos detentos. “Eles organizam crimes por meio de telefonemas. É isso que estamos tentando impedir cada vez mais”, afirma João Batista Paschoal, diretor-geral da Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Central do Estado, responsável pelo Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia.

O Complexo Campinas-Hortolândia

Unidade Prisional População Capacidade
atual máxima

Penitenciária 1 1.009 750

Penitenciária 2 1.210 804

Penitenciária 3 1.148 750

CDP Campinas 1.355 768

CDP Hortolândia 480 768

Ataliba Nogueira 1.161 1.060

Total 6.363 4.150