Como usar o Parque Ecológico

Correio Popular - Campinas - Terça-feira, 3 de agosto de 2004

ter, 03/08/2004 - 9h05 | Do Portal do Governo

É, de fato, um desafio que provavelmente contribuirá para enriquecer o debate sobre a destinação daquela área de lazer e que desde já convida a população a pronunciar-se sobre a questão da multiplicação de seus fins e usos

Editorial

Ao sugerir a implementação de uma agenda cultural no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim a fim de estimular sua freqüentação pelo público, o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Goldemberg, fornece um tema que merece ser pensado e discutido sem preconceitos e, principalmente, sem delongas. Atualmente em processo de reforma, a maior área de lazer de Campinas viu minguar o número de visitas ao longo dos últimos anos em conseqüência do virtual abandono que sofreu, só recentemente superado com a assinatura de convênio entre os governos estadual e municipal, senha oficial para o início das obras.

Estas, patrocinadas ou executadas diretamente pelas empresas que aderiram na qualidade de parceiras ao projeto de revitalização do Parque – a Petrobras, a Shell do Brasil e a Companhia Paulista de Força e Luz –, começaram com a recuperação de lanchonetes, sanitários e do espaço destinado às oficinas de arte e deverão prosseguir, a partir de setembro, com a substituição completa do sistema de iluminação; a CPFL, que se encarrega desta parte, instalará 225 luminárias em 178 postes com altura-padrão, o que deve prevenir os ataques de vândalos.

A insegurança foi, como o leitor se lembra, o principal fator de desestímulo da visitação pública. Uma vez tornada efetivamente coisa do passado, mercê não só da geral remodelação como da futura implantação do esquema de policiamento, é de se esperar que o Parque volte naturalmente a ser freqüentado pelas pessoas, sobretudo as que nele vêem o lugar apropriado para a prática de um lazer associado à educação ambiental. Esta vocação do Ecológico não se perdeu durante os anos de degradação e deve ser retomada sem dificuldade quando ele ressurgir revitalizado.

A proposta do secretário Goldemberg vem, à primeira vista, melhorar essa expectativa, uma vez que a idéia é reproduzir no local a experiência que o Estado desenvolve no Parque Villa-Lobos, na capital, freqüentado por 15 mil visitantes aos finais de semana. Seria provavelmente uma iniciativa virtuosa, na medida em que devolveria o Ecológico ao público no mesmo passo em que ampliaria sua vocação, estendendo-a pelas áreas cultural e empresarial, e otimizaria seu aproveitamento. Com efeito, atividades como shows e convenções de empresários, na proporção mesma em que expandem o leque de opções de uso do Parque, dão um sentido maior à palavra “revitalização”, no caso.

Também não deixa de ter razão o secretário ao qualificar a tarefa como um desafio para o Conselho de Orientação empossado ontem. A idéia, se aceita e aplicada, implicaria introduzir o Ecológico em nova fase, exigindo a formulação de um bom regulamento e de estratégias que devem prever e prover uma eficiente infra-estrutura de serviços, como o de transportes (se se quer levar o povo ao Parque, deve-se, evidentemente, planejar adequadamente esse “levar” no seu sentido básico, físico).

É preciso sublinhar também que é inédita a forma como ocorre a nova gestão do Ecológico pelas duas instâncias do poder público; o mencionado Conselho de Orientação reúne, além de delegados do Governo estadual e da Prefeitura campineira, membros de dois Conselhos municipais (o de Meio Ambiente e o de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural) e representantes das empresas parceiras. Esse dado novo transforma certamente a administração do Parque em trabalho aparentemente mais complexo, na medida em que as decisões dependerão da obtenção de consenso entre os conselheiros. Entretanto, apesar das origens heterogêneas, isso não pode ser tomado na conta de dificuldade ou obstáculo; é, de fato, um desafio que provavelmente contribuirá para enriquecer o debate sobre a destinação daquela área de lazer e que desde já convida a população a pronunciar-se sobre a questão da multiplicação de seus fins e usos.